Sob a designação #EstudoEmCasa, arranca esta segunda-feira (20) uma nova versão da telescola em Portugal. Um projeto do Ministério da Educação, em parceria com a RTP, destinada aos alunos do ensino básico, do 1.º ao 9.º anos.

O JPN ouviu a propósito três responsáveis na área da educação – Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escola Públicas (ANDAEP), Jorge Ascensão, presidente da Confederação de Pais e Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF) – sobre este projeto que se vai estender até ao final do presente ano letivo.

Quando começa e onde vai ser transmitido?

Começa na próxima segunda-feira, dia 20 de abril, pelas 09h00.

Vai ser transmitido por duas vias: na televisão (no canal RTP Memória) e online (na RTP Play em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/).

O canal RTP Memória pode ser encontrado na televisão por cabo e na TDT:

  • MEO – posição 100
  • NOS – posição 18
  • Nowo – posição 13
  • Vodafone – posição 17
  • TDT – posição 7

O ME diz ainda que vai disponibilizar uma app com todos os conteúdos do #EstudoEmCasa.

Qual o horário e como vão ser organizadas as aulas?

O programa #EstudoEmCasa vai ser transmitido de segunda-feira a sexta-feira, das 09h00 às 17h50.

Cada aula vai ter a duração de 30 minutos, em vez da carga horária habitual de 45 ou 90 minutos.

Os conteúdos vão ser agrupados em pares de anos: 1.º e 2.º anos, 3.º e 4.º anos, 5.º e 6.º anos, 7.º e 8.º anos e finalmente 9º ano.

As disciplinas variam consoante o ano letivo. Português, Matemática, Educação Física, Estudo do Meio, Inglês, Ciências Naturais, História, Geografia e Edcuação Artística são alguns exemplos.

Qual é o principal objetivo da iniciativa?

Os blocos pedagógicos que vão ser apresentados pelo #EstudoEmCasa são apresentados como um complemento ao trabalho dos professores, destinado sobretudo aos estudantes que não têm ligação à internet ou equipamento informático em casa.

O #EstudoEmCasa terá uma missão suplementar e não substitutiva. O próprio ME assume que ele não se constitui como uma “forma autónoma de desenvolver aprendizagens integrais no Ensino Básico”.

Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, frisa o caráter complementar do projeto: “tudo o que vier ajudar, é bem-vindo, mas não se deve confundir [o #EstudoEmCasa] nem com a telescola, que não é nada disso, nem com aulas. É mais um recurso”, avalia.

Como é que vai ser organizada a matéria no #EstudoEmCasa?

Os blocos vão, segundo o ME, incluir “conteúdos pedagógicos temáticos” que “fazem parte das aprendizagens essenciais do 1.° ao 9.° anos”, agrupados da forma que se explicou acima.

Os blocos vão ser complementados por informação que será disponibilizada aos professores numa página de apoio da Direção-Geral da Educação.

“Para cada uma das aulas são disponibilizados os temas tratados, as aprendizagens essenciais desenvolvidas e propostas de trabalho/desafios que poderão complementar o trabalho dos professores das escolas destes alunos”, diz o ME.

No total, avançou o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, “vão ser produzidos cerca de 650 [blocos] de todas as matérias”, afirmou numa declaração registada pela TSF.

Segundo Mário Nogueira, tem de ser feita uma exploração geral dos conteúdos, concretamente “no âmbito da Cidadania, temos de ter em atenção também as questões do aperfeiçoamento, no caso das línguas”.

O Ministério da Educação garantiu aos professores o conhecimento prévio do conteúdo, de forma a depois ser explorado com os alunos.

Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, sublinhou, a propósito, que o ensino mudou nos últimos anos: de um ensino mais “uniforme”, em que todos os estudantes acompanhavam a mesma matéria, para um mais recente: “estamos num quadro de flexibilidade curricular em que as escolas podem adotar determinado tipo de percurso, aliás, até se podem organizar de forma diferente”, acrescentou.

Sendo assim, é complicado dar uma resposta em comum a todos os estudantes.

Mário Nogueira considera também que as emissões televisivas não vão acabar com as desigualdades e que a junção de dois anos por sessão – por exemplo, 1.º e 2.º anos, 3.º e 4.º anos -, é algo que pode vir a trazer confusão, porque todos os anos são diferentes e a aprendizagem em cada um deles também.

E os alunos do pré-escolar e do Secundário?

As emissões televisivas do #EstudoEmCasa destinam-se a alunos do Ensino Básico.

No entanto, o Ministério da Educação anunciou iniciativas paralelas que visam outros níveis de ensino.

No caso do pré-escolar, a RTP 2 transmitirá conteúdos para as crianças dos 3 aos 6 anos. Para o efeito, e desde o dia 13 de abril o espaço de programação infantil da RTP – Zig Zag – renovou a sua programação.

Além disso, o ME anunciou esta semana uma parceria com o YouTube e a empresa portuguesa Thumb Media para a criação de uma plataforma assente no YouTube, que permite que os professores disponibilizem as suas aulas, possibilitando que elas fiquem acessíveis.

No YouTube, os cinco canais poderão ser encontrados fazendo a pesquisa por “DGE #EstudoEmCasa”, ou nos seguintes links:

Pré-Escolar
1.º Ciclo
2.º Ciclo
3.º Ciclo
Secundário

Estes canais irão também incorporar os conteúdos que vão passar na televisão, para que fiquem acessíveis on-demand ou de forma individualizada.

Que responsabilidade têm os pais neste contexto?

Orientar e acompanhar o estudo dos filhos é crucial para que a distância educacional não seja tão notória.

Contudo, como adverte Jorge Ascenção, da CONFAP, os pais não substituem os professores: “a família tem de ser o prolongamento da escola”, afirma. Já que muitos pais também estão a trabalhar desde casa, a organização do tempo é fundamental.

O contexto atual “exige muito dos nossos pais”, assume Filinto Lima, da ANDAEP. “Temos de lhes pedir um sacrifício acrescido”, conclui.

O #EstudoEmCasa veio para ficar?

O projeto do Governo é uma solução adicional para o momento corrente, porque os jovens, sobretudo nas idades entre o 1.º e o 9.º anos, têm pouca autonomia, carecendo de um acompanhamento presencial.

Haverá casos de alunos que não vão ter nenhum problema com ter aulas à distância, mas nem todos são iguais. Este programa pode estabelecer uma rotina nos estudantes, o que é uma vantagem.

Para Filinto Lima, presidente da ANDAEP, a iniciativa vai ao encontro de um contexto que é a exceção, não a regra: “isto não é o futuro, o futuro é que os alunos regressem à escola com os professores, o futuro é o passado”, reflete.

Quais os principais problemas do ensino a distância?

A falta de experiência e muitas vezes de formação dos professores para o ensino à distância e as dificuldades que muitos alunos sentem, mesmo tendo acesso a dispositivos informáticos, são os principais problemas.

O ensino à distância pode também acentuar ainda mais as desigualdades que já existem entre os estudantes, já que o ritmo de aprendizagem não é o mesmo para todos.

Mário Nogueira, da FENPROF realça que o ato educativo não é à distância e que os jovens têm uma grande necessidade de convívio presencial entre alunos e professores.

“Perceber quando é que o aluno compreendeu ou não compreendeu, quando é que está apto a poder avançar, ou quando precisa de um apoio mais específico para que depois possa acompanhar os outros”, são aspetos que o ensino a distância não providencia, diz Mário Nogueira.

“Os alunos têm uma capacidade enorme de evoluir, de aprender, de investigar, têm curiosidade própria. A questão é sermos capazes, enquanto escola, pais e professores , de adaptar-nos, de orientar-nos, de percebermos que isto não é o mesmo que o ensino presencial, temos de nos ajustar àquilo que estamos a fazer”, sublinha Jorge Ascensão.

Qual é o papel dos professores?

É um papel fundamental, claro, no ensino e no acompanhamento dos alunos.

Mário Nogueira frisa que estes profissionais de educação “têm de procurar garantir que todos os alunos estão contactáveis, têm de trabalhar em questões que têm a ver com as suas aprendizagens, com a escola”.

Além disso “os professores têm de procurar, diluir também diferenças, desigualdades, detetar à distância as dificuldades, porque há alguns que têm maiores problemas na aprendizagem.”

Uma coisa é certa na perspetiva de Mário Nogueira: “Este ano vai deixar marcas, e há marcas que dificilmente se apagarão, temos de saber gerir a nossa vida segundo esta nova realidade”, apontou o secretário-geral da FENPROF.

Artigo editado por Filipa Silva