A poeta norte-americana Louise Elisabeth Glück, de 77 anos, foi a escolhida este ano, pela Academia Sueca, para receber o Nobel de Literatura. Apesar de estar bem cotada na lista das apostas para este ano, a laureada mostrou-se surpresa ao receber a informação através de um telefonema que recebeu de Estocolmo, às 7 horas da manhã.

Premiada pelo Comité Nobel “pela sua inconfundível voz poética que, com austera beleza, torna universal a existência individual”, a autora contou, em entrevista ao “The New York Times”, na mesma manhã, que ser distinguida desta forma é “demasiado novo” e completou desabafando que uma das suas grandes preocupações é a mudança que tamanha distinção pode causar.

Glück, que vive em Cambridge, no Massachusetts, onde dá aulas na Universidade de Yale, contou, ainda estupefacta, que o plano a curto prazo é comprar casa no vizinho estado do Vermont, no extremo nordeste dos Estados Unidos.

Para os críticos, os textos da poeta possuem uma influência da psicanálise. A perda, a dor, a morte, a rejeição ou o fracasso estão entre os temas mais trabalhados pela autora. Além disso, a sua obra é marcada pela ligação a figuras da mitologia, como Perséfone (retratado em “Averno”), Aquiles, além de lendas e mitos que se relacionam com uma tentativa de analisar e refletir sobre as experiências humanas e as relações sociais.

Ainda sobre a sua escolha, a autora comentou ao jornal americano: “Agora a minha rua está cheia de jornalistas, e este era um acontecimento que eu achava muito improvável de acontecer. Eu sou uma escritora branca, vinda de um país que não está a ser visto com bons olhos neste momento, e que já ganha muitos prémios”, declarou. Glück assinalou ainda que devido a todos os acontecimentos ocorridos este ano, foi uma surpresa que o prémio fosse para uma escritora norte-americana.

A nova-iorquina, criada em Long Island, sofreu de anorexia nervosa enquanto estudante universitária, o que atribuiu mais tarde à morte da sua irmã mais velha, que faleceu antes do seu nascimento. Ela frequentou instituições como Sarah Lawrence e a Columbia University, mas não se formou.  Ainda durante o ensino secundário, a agora laureada Nobel começou um tratamento psicanalítico que foi, segundo ela, um processo necessário que a ajudou a curar-se da doença, e mais do que isso, que a obrigou a pensar.

Atualmente divorciada, casou-se pela primeira vez em 1967 com Charles Hertz Jr. e em 1973 teve o primeiro filho, Noah, com John Dranow, autor com quem se casou quatro anos depois.  

O Nobel chegou em 2020, mas Louise Glück, cuja obra não está editada em Portugal, já coleciona na sua carreira uma saga de prémios e nomeações relevantes no mundo da literatura. O seu penúltimo livro, “Faithful and Virtuous Night”, garantiu-lhe o National Book Award de 2014. Muitos antes, em 1993, um dos seus mais populares livros, o “The Wild Iris”, valeu-lhe um Pulitzer e no ano de 2015 foi condecorada com a Medalha Nacional de Humanidades pelo presidente Barack Obama.

A cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Literatura, que vale aos laureados um milhão de euros, este ano vai ser realizada online, por razões de segurança associadas à pandemia da Covid-19. Está agendada para 10 de dezembro.

Artigo editado por Filipa Silva