Alexandrina Dias, de 91 anos, espera pela sua vez para receber a vacina da Pfizer contra a Covid-19. Chegou acompanhada pela filha, por meios próprios, ao centro de vacinação da Maia, localizado no edifício da Junta de Freguesia do Castêlo, em Gemunde. Olinda da Conceição, a filha, confessa que a mãe não entende bem o vírus: “sabe que vem tomar uma vacina, mas não sabe muito bem a quê”.

O presidente da Câmara Municipal da Maia, António Silva Tiago, aproxima-se das utentes, gesto que deixou Olinda surpreendida: “nunca pensei que ele viesse ter aqui connosco”, diz ao JPN. O segundo dia de vacinação no concelho começa agitado com a visita de várias personalidades políticas, entre as quais o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro.

Ao JPN, o autarca maiato justificou a localização do centro de vacinação do município: “Descentralizamos. Gostamos também de criar, uma vez que há estas necessidades [espaços de vacinação], oportunidades para que as várias geografias do concelho existam de facto”, declarou. No interior, estão montadas seis salas de enfermagem, três salas de recobro e as pessoas com mobilidade reduzida podem aceder ao espaço através de um elevador. As dimensões do espaço pesaram também na decisão.

Questionado sobre potenciais dificuldades de deslocação até ao local, o presidente da Câmara da Maia foi perentório: “Temos as viaturas da Câmara e os motoristas disponíveis, temos as viaturas das juntas de freguesia e os motoristas. (…) O transporte das pessoas que necessitem está assegurado”. Além destes meios, também a Cruz Vermelha Portuguesa assegura o transporte.

António Silva Tiago admitiu, porém, a hipótese de abrir outros centros “à medida que as vacinas forem existindo com maior intensidade, em maior número”. O responsável relembra que a abertura de novos centros de vacinação depende também da Administração Regional de Saúde (ARS), do Agrupamento de Centros de Saúde Maia/Valongo, da Direção-Geral da Saúde e do Ministério da Saúde. “Isso irá acontecer. Há bocadinho, falava com o secretário de Estado, Eduardo Pinheiro, e o presidente da ARS Norte, irá acontecer daqui a mais algumas semanas ou meses. Para isso, é preciso haver vacinas”, frisou. O autarca adiantou que o primeiro lote de vacinas da Astrazeneca chega à Maia na quinta-feira (25).

Foi precisamente a escassez de vacinas que atrasou a abertura ao público deste centro de vacinação no Castêlo da Maia, operacional desde o dia 8 de fevereiro. Embora exista a capacidade instalada para administrar 360 doses por dia. “O problema que existiu é que, em vez de cinco, estão a vir três, isto é uma força de expressão”, explicou ao JPN o presidente da Junta de Freguesia de Castêlo da Maia. “Isto tem de ser rateado de maneira a que os grupos que estavam programados não sejam afetados”, acrescentou. Manuel Azenha garantiu ainda que praticamente todos elementos das forças de segurança da freguesia já tomaram a primeira dose: “há sempre aquele remanescente, ou por estar de serviço ou saúde ou qualquer coisa, mas a esmagadora maioria já veio”.

O presidente da junta do Castêlo defendeu igualmente a escolha do local que recebe a campanha “com sentimento de dever cumprido”: “não tem nenhuma razão especial a não ser uma questão de eficácia e de rapidez, de fácil adaptação. Reunia praticamente todas as condições que a DGS exige”, resume.

“Estamos com o processo de vacinação dentro do que estava previsto, e para a Maia estamos a falar de vacinar 250 pessoas em média por dia, inicialmente maiores de 80 anos, mas ao longo da semana estendido aos mais de 50 anos e com morbilidades”, afirmou o secretário de Estado Eduardo Pinheiro em declarações à comunicação social. O responsável pela Coordenação da Situação de Calamidade na Região Norte acrescentou ainda que “há sempre alguma ansiedade de todos para que o processo de vacinação decorra o mais rapidamente possível”, e reforçou que mesmo com os avanços “é preciso manter os cuidados”.

Numa altura em que a vacinação já arrancou em toda a Área Metropolitana do Porto, quando a vacinação estiver concluída e se as condições de saúde assim o permitirem, o presidente António Tiago Silva quer contribuir para um evento, em jeito de celebração: “Depende do momento, eu gostava que fosse um evento que se associasse à juventude. A juventude é já o presente e o futuro”.

O centro de vacinação por dentro

Tal como todas as pessoas inscritas para receber a primeira dose da vacina, Alexandrina Dias seguiu o processo estabelecido: esperou no auditório, subiu ao primeiro andar, onde já pode ver dois gabinetes de vacinação, e aguarda a vez para levar a sua injeção. No fim, tem de esperar meia-hora no espaço de recobro para garantir que não são registadas reações adversas à vacina.

Carla Marques, que trabalha no gabinete de saúde da Câmara Municipal da Maia, é a primeira pessoa do lado de dentro da porta. Ocupa-se agora de receber e orientar as pessoas que iniciam o seu trajeto e entrega-lhes um formulário a ser preenchido no auditório. “Nós temos aqui um pequeno inquérito. Na sala de espera, há colegas a ajudar as pessoas de uma faixa etária que não têm muita facilidade em ler, nem sabem escrever, a preencher”.

“É um misto de adrenalina, da responsabilidade que é para que tudo corra da melhor forma possível, mas, ao mesmo tempo, também é de tranquilidade. Está tudo a fluir da forma que esperávamos”, acrescenta Carla Marques.

Cláudia Pessoa e Ema Cardoso, duas das voluntárias presentes, no seu primeiro dia no terreno, encaminham os seniores que vão chegando na ambulância da Cruz Vermelha. Esperam o sucesso da campanha e, em conjunto, lembram o seu papel: “que corra bem, estamos aqui para ajudar (…) até porque são idosos, precisam sempre de ajuda”.

Alexandrina dirige-se para o gabinete indicado e encontra Paula Ferreira, enfermeira da Unidade de Saúde Familiar de Pedrouços, que lhe administra a vacina. Diz que não sentiu nada e segue para a sala de recobro com a filha, não sem antes ouvir o recado da enfermeira: “Esta já está, falta a segunda. Vai já marcado. De hoje a três semanas”.

Paula Ferreira, que apesar de inscrita ainda não recebeu a vacina por razões de saúde, divide-se entre a preparação das doses, o registo e a administração das mesmas. “Já vacinei 16 pessoas hoje, mas como estou na preparação… Há pessoas que só estão a vacinar, outras estão só a registar e outras estão só a preparar. Estou a correr o circuito”, partilha.

A enfermeira diz-se familiarizada com utentes e vacinas: “Faz parte da nossa rotina, é a vacina da gripe todos os anos, são as vacinas do tétano… Não se pode é desperdiçar, tem de ser com muito rigor”, conclui a profissional de saúde.

Artigo editado por Filipa Silva