A igualdade de género é uma temática cada vez mais atual e a Universidade de Coimbra (UC) tem desenvolvido várias atividades que promovem o tema. No entanto, a área da investigação não fazia parte do leque de vertentes contempladas.
“Existem vários projetos nesta componente de igualdade de género, mas focada na investigação não tenho memória”, refere Cláudia Cavadas, vice-reitora da Universidade de Coimbra. Identificada a lacuna, a instituição criou o projeto “GendEr@UC – Gender Equal Research”, abrindo espaço para que a produção de conhecimento possa ser feita de forma mais igualitária. “O que nós achamos é que faltava aqui um tópico da questão do género na investigação. Já existem dados que mostram que não se deve ignorar a dimensão do género na produção do conhecimento.”, afirmou a coordenadora do projeto em entrevista ao JPN.
O GendEr@UC recebeu, muito recentemente, um financiamento de 240 mil euros do programa Conciliação e Igualdade de Género no âmbito do EEA Grants – Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu.
O projeto vai ter início ainda este mês e contempla a realização de 15 atividades. Entre elas, destaca-se o mapeamento de políticas nos centros de investigação – para perceber se têm uma política de igualdade de género – workshops de género e liderança e “guidelines” para a realização de eventos para que estes, por exemplo, integrem nos convidados homens e mulheres, em número equilibrado.
“Os dados mostram que o número de mulheres que concorrem [a investigadoras] é mais baixo, mesmo nas áreas que há mais mulheres a trabalhar”, referiu Cláudia Cavadas. Nesse sentido, prevê-se, também, a realização de sessões de mentoria, como é o caso do bootcamp WomenResearchers@UC que visa incentivar um maior número de mulheres a candidatarem-se a lugares de investigação na UC, alargando, consequentemente, as possibilidades de chegarem a cargos de liderança.
Contudo, alargar a temática da igualdade de género para a investigação não significa, apenas, incentivar a uma maior presença das mulheres nesta área. “Quando nós dizemos igualdade de género, claro que pensamos que é necessário mais mulheres em determinadas áreas. Mas também é preciso mais homens noutras áreas. Equipas diversas levam a uma investigação de maior qualidade”, sublinha a vice-reitora.
Assim sendo, e englobando as 37 unidades de investigação da Universidade de Coimbra, o objetivo é perceber “se esta componente do género está a ser olhada, para evitar estereótipos, combater a segregação vertical e horizontal da carreira de investigação”.
O GendER@UC vem alargar a temática da igualdade de género e os objetivos estão traçados. “O cenário ideal é fazer com que as pessoas olhem para este tema.” Para Cláudia Cavadas, é essencial alertar os investigadores e as investigadoras para a desigualdade de género, construindo uma realidade em que não é preciso “chamar a atenção para a falta de homens ou mulheres em seminários, workshops, congressos”. “Se isto ficar interiorizado, acho que temos uma grande mais-valia e certamente que vai ter impacto na qualidade e nas práticas de investigação. (…) É um objetivo longínquo, mas temos que ir batalhando”, concluiu.
O projeto é feito em parceria com a Universidade da Islândia e com o Centro de Estudos Sociais (CES) da UC. Para além disso, o GendER@UC conta, também, com a colaboração da Fundação para a Ciência e Tecnologia, da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (AMONET) e da cientista e professora de neurociência Jessica Cantlon, da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA.
Embora, nos próximos três anos, a atuação e concretização do projeto seja apenas na UC, Cláudia Cavadas afirma que a ideia é que o projeto continue. “As atividades que vamos fazer são só durante estes três anos na Universidade de Coimbra. Mas, depois, em termos da comunicação e divulgação, vai ter impacto certamente noutras universidades através da Fundação para a Ciência e Tecnologia.”
Artigo editado por Filipa Silva