56,5% dos estudantes das instituições de ensino superior em Portugal preferem um regime presencial de aulas. O resultado decorre de um estudo intitulado de “Práticas de Lazer, Emoções e Ensino E-learning dos Estudantes do Ensino Superior”, realizado durante o primeiro confinamento, entre março e maio de 2020.

A maioria dos estudantes inquiridos preferiu um ensino presencial (56,5%), porém há igualmente uma significativa percentagem de estudantes que escolhem um modelo de ensino híbrido (b-learning), que combina o ensino presencial com o ensino online (35,5%). No caso de um ensino exclusivamente online (e-learning), os inquiridos apontaram uma preferência de apenas 8%.

A investigação apresenta ainda que os estudantes não sentiram o seu percurso afetado com a alteração para um ensino à distância. 56% dos inquiridos afirmaram que o interesse pelo curso manteve-se, assim como, pelas unidades curriculares (55%) e pelo estudo em geral (45,2%).

O estudo mostra que os estudantes inquiridos reconhecem algumas vantagens num modelo de ensino à distância, apesar da preferência para um modelo presencial. 70,8% dos alunos consideraram que as atividades em e-learning eram relevantes para a aprendizagem, assim como 68,5% apontou que os docentes estavam sempre disponíveis durante todo o processo de ensino.

58,2% dos estudantes apontaram igualmente que o ensino online oferecia uma maior flexibilidade na gestão do tempo , bem como, os professores disponibilizaram mais materiais de apoio para complementar o estudo em casa (46,1%).

Na prática de um ensino à distância, 67,4% dos estudantes afirmou que o modelo online exige muito esforço de aprendizagem. Cerca de um terço (31,7%), considerou o ensino à distância adequado a todas as unidades curriculares.

Em relação a estas resultados, as responsáveis por este estudo apontam que “os primeiros momentos do uso exclusivo do e-learning foram de extraordinária adaptação para as instituições de ensino, para os seus docentes e estudantes. É natural que, pela rapidez da transição, tenha havido espaço para melhorias nos métodos de aprendizagem, contacto e no modelo de avaliação”.

O estudo foi realizado por Cristina Cunha Mocetão, Catarina Nadais e Rosa Conde, docentes do Instituto Superior de Administração e Gestão – European Business School (ISAG – EBS) e investigadoras do Centro de Investigação de Ciências Empresariais e do Turismo da Fundação Consuelo Vieira da Costa (CICET – ECVC). Segundo Rosa Conde, em entrevista ao JPN, a investigação procurou perceber “como é que os alunos do ensino superior reagiram ou sentiram em relação ao regime e-learning”, assim como, “saber qual dos regimes é que os estudantes preferem, bem como, quais as vantagens e grandes dificuldades no sistema e-learning”.

A investigadora acrescenta que um outro objetivo desta investigação foi estudar “as emoções dos alunos universitários que estavam em confinamento, ou seja, se se sentiam mais stressados, mais tristes, mais irritados e paralelamente também tentamos saber como é que eles iriam ocupar os seus tempos livres”.

Rosa Conde afirma ainda que, como “houve uma mudança significativa em todo o paradigma do ensino superior“, era importante perceber o impacto da alteração para um sistema à distância.

Para lá das atividades letivas

Esta investigação aprofundou ainda as emoções dos estudantes do ensino superior, assim como, a ocupação dos seus tempos livres durante o período do primeiro confinamento.

As investigadoras defendem que, ao analisar os resultados, os estudantes não tiveram sentimentos negativos. Os resultados apontam que 83,9% dos inquiridos sentiram-se pouco ou nada envergonhados, 78,9% pouco ou nada  agressivos, 61,8% pouco ou nada deprimidos, 61% pouco ou nada incomodados, tristes ou agitados e 60,3% pouco ou nada chateados.

Porém, 63,3% dos estudantes inquiridos sentiram-se pouco ou nada vigorosos, 60,7% pouco ou nada estimulados, 55,6% pouco ou nada inspirados e 52,4% pouco ou nada entusiasmados.

Sobre estes resultados, as investigadoras salientam que “as próprias instituições de ensino superior, para além de procurarem garantir os recursos necessários ao normal decorrer da atividade letiva, tiveram um papel determinante na procura do bem-estar dos seus estudantes, pois muitas criaram mecanismos de apoio emocional e fortaleceram os canais de contacto à disposição dos alunos”.

No que toca às atividades fora do período de aulas, 62,4% dos estudantes apontaram que ouvir música era o que ocupava mais o tempo, 51,4% escolhiam ver filmes e séries e 41,2% optavam por atividades domésticas. Por outro lado, questionados sobre as atividades menos praticadas, 53,5% indicaram o exercício físico fora de casa, 49,1% a bricolagem e 29,6% a ida às compras.

“A pandemia ocasionou um panorama de isolamento físico e social que transformou a vida de um momento para o outro dos agentes sociais (estudantes e professores), que tiveram de, não apenas lidar com as dificuldades emocionais, físicas e económicas decorrentes da pandemia, mas também adaptar-se a um contexto de mudança e de continuidade” concluíram as investigadoras sobre os resultados deste estudo.

Artigo editado por João Malheiro