Convocados pelo Presidente da República, representantes de 16 associações e federações académicas do país reuniram-se com Marcelo Rebelo de Sousa na tarde deste domingo (11). Em audiência coletiva no antigo Picadeiro Real do Palácio de Belém, os estudantes puderam partilhar as suas opiniões sobre as oportunidades e os desafios que a pandemia coloca às universidades e politécnicos portugueses.

“Atento às consequências da pandemia na realidade económica e social da juventude e do seu impacto no ensino superior, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa destacou a importância da participação ativa dos jovens na reconstrução do país pós-pandemia”, lê-se na nota publicada no site da Presidência da República.

Os representantes dos estudantes pediram ao chefe de Estado que o Ensino Superior seja um foco de atenção constante do país. No encontro, foram abordados diversos temas, com destaque para o acesso ao ensino superior, que o movimento associativo quer que seja universal, o impacto da pandemia no abandono escolar e na saúde mental dos estudantes, a transição digital, a necessidade de alteração dos métodos de ensino, a importância da prática desportiva e o financiamento às Instituições de Ensino Superior (IES).

Os assuntos tratados na reunião foram distribuídos pelas várias estruturas estudantis para que não fossem repetidos e para permitir um maior aprofundamento dos temas.

Da propina zero aos apoios sociais

Hélder Semedo, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL), quer que o Governo esteja atento aos apoios que o país vai receber no futuro e exige que o Presidente da República incite o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Reitor da Universidade de Lisboa a aplicarem as reformas necessárias para o “aprofundamento da Universidade” e para “estancar as políticas de mercantilização do ensino”.

Por sua vez, o presidente da Federação Académica de Lisboa (FAL), Francisco Maria Pereira, diz ao JPN que a FAL teve oportunidade de apelar ao acompanhamento, por parte do Presidente da República, da execução de projetos para o alojamento estudantil.

Pela Associação Académica de Coimbra (AAC), João Assunção frisa que a AAC teve como objetivo expressar a importância da concretização do direito fundamental de acesso ao Ensino Superior, que exige, na visão da estrutura, a gratuitidade, com a “progressiva aproximação à propina zero” e a “revisão do regime de prescrições”, que representam, neste momento, uma forma de “exclusão do Ensino Superior por via económica”, afirmou.

Frederico Freitas, vice-presidente da Federação Nacional do Ensino Superior Particular e Cooperativo (FNESPC), destaca o agravamento do abandono escolar causado pela pandemia e a necessidade de uma maior proximidade entre as empresas e as Instituições de Ensino Superior, uma vez que os jovens são “o motor que transporta o conhecimento para as empresas”. “Nós, estudantes, queremos que entendam que podemos e queremos ser parte da solução para a recuperação económica do país”, esclarece.

O presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI), Ricardo Nora, esclarece que, no encontro, abordou o “subfinanciamento crónico” da Universidade da Beira interior (UBI) e a necessidade de “descentralizarmos o investimento que é feito no Ensino Superior”. A UBI, de acordo com Ricardo Nora, tem mais alunos, os mesmos cursos, o mesmo padrão de avaliação, no entanto, recebe menos financiamento do Estado, em comparação com outras universidades, “quase menos mil euros por aluno”, afirma.

16 associações e federações de estudantes marcaram presença. Foto: Miguel Figueiredo Lopes / Presidência da República

Já o representante da Associação Académica da Universidade de Évora (AAUE), Henrique Gil, evidenciou o financiamento das associações e do Instituto Português do Desporto e Juventude nesse processo.

E das ilhas, por videoconferência, Daniela Faria, presidente da Associação Académica da Universidade dos Açores (AAUAç), focou-se em algumas das especificidades que caracterizam a Universidade dos Açores. Nomeadamente, a dispersão territorial da instituição, que se encontra dividida por três campus, um em cada ilha do arquipélago. Para além disso, a presidente da AAUAç considerou que apesar de ter havido uma proposta de linha de apoio social para estudantes nos Açores, “é necessário agir efetivamente, de forma a que os estudantes completem a sua formação e não se vejam forçados a abandonar o sonho, a aspiração e o direito de serem formados por questões socioeconómicas”, afirmou ao JPN.

O presidente da Associação Académica da Universidade da Madeira (AAUMadeira), Alex Faria, explica que AAUMadeira destacou a “precariedade e a falta de reconhecimento” sentidos pelo setor da investigação, sugerindo a “prorrogação de todas bolsas de investigação devido a todos os condicionamentos colocados” pela pandemia. Para além disso, apontou a “ausência de uma proposta de contrato-programa para a Universidade da Madeira”, de forma a compensar os sobrecustos da insularidade e ultraperiferia.

Em jeito de balanço, Tiago Diniz, presidente da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP), refere ao JPN que o encontro correu bem e que os estudantes saíram “com satisfação” do Palácio de Belém. O dirigente associativo explica que o Presidente é um agente político e que, por isso, pode exercer influência e é essa que os estudantes esperam que Marcelo Rebelo de Sousa exerça. A propósito, espera que o chefe de Estado esteja presente em atos oficiais dos estudantes, para que “a sociedade tenha mais consciência de que a educação e a ciência são parte chave da nossa sociedade”.

Em Belém, participaram no encontro, além das associações referidas, a Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), a Federação Académica do Porto (FAP), a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), a Associação Académica de Trás-os-Montes e Alto Douro (AAUTAD), a Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), a Associação Académica de Lisboa (AAL) e a Associação Académica da Universidade do Algarve (AAUAlg).

Artigo editado por Filipa Silva