Aos 24 anos, o maiato Nuno Borges venceu o primeiro título da carreira no circuito profissional este fim de semana na Turquia, onde venceu do Challenger de Antália. “Um sonho”, como confessou no final do encontro à Agência Lusa, que lhe valeu um enorme salto no ranking ATP para a posição mais alta que já ocupou: é agora o número 228 da hierarquia mundial. Além disso, garantiu um outro grande objetivo: o acesso ao qualifying para o Austrália Open, marcado para janeiro do próximo ano.

Antes da Antália, Borges sagrou-se bicampeão nacional absoluto em Portugal, juntando ao título de singulares o de pares – com Francisco Cabral – no campeonato que terminou a 13 de novembro no Jamor. Foi na sequência destas conquistas em território nacional, que o JPN entrevistou o tenista para conhecer melhor o seu percurso na modalidade.

Da Maia para o Mississipi

O gosto pelo ténis emergiu cedo, mais concretamente quando Nuno Borges entrou na escola primária: “Tinha tempo livre e os meus pais pensaram ‘porque não?’. O meu gosto pelo ténis apareceu depois de experimentar”. A proximidade do Complexo de Ténis da Maia também ajudou. A natação e o futebol fizeram parte do seu percurso, mas foi o ténis que o conquistou.

Aos 18 anos, após terminar o 12.º ano na Escola Secundária da Maia, surgiu a oportunidade de estudar nos Estados Unidos da América. Ingressou na Mississipi State University, onde pôde conciliar o curso superior com o sonho do ténis. Foi aí que percebeu que queria fazer deste desporto profissão, e não apenas um hobbie: Assim que fui para os Estados Unidos estudar e jogar, comecei lentamente a ver-me competir a nível profissional”.

Fora de Portugal, Nuno Borges conta que a adaptação ao sistema universitário norte-americano não se fez sem dificuldades: “Muita coisa mudou aí. A comida, os carros, a hora das refeições, o ar condicionado constante… A tudo isso demorei a habituar-me, mas a maior [dificuldade de] adaptação deu-se logo nos dois primeiros meses, com a [necessidade de] conciliar os estudos com o ténis e gerir o meu tempo”.

O jogador acredita que ter saído do seu país o fez amadurecer bastante, e refere que o que mais lhe agradou nos Estados Unidos, onde concluiu a formação em 2019, foi ter conseguido conciliar os treinos com os estudos.

Ao longo desta sua jornada, a sua maior influência foi o seu treinador principal Matthew Roberts: “porque foram quatro anos sempre a ser treinado por ele”.

Embora considere que “o ténis é um desporto duro devido ao quanto se tem de sacrificar para se poder vir a ser bom”, o tenista natural da Maia não se imagina a fazer outra coisa: “Não me consigo ver a ser mais nada sem ser jogador. Quando o tempo chegar de seguir para algo mais, verei”.

Hoje profissional de ténis, Nuno Borges sublinha que para que a modalidade cresça em Portugal “é necessário continuar a investir em torneios e na formação de jogadores.” “A Federação [Portuguesa de Ténis] tem feito um bom trabalho nesse aspeto. O facto de termos torneios grandes em Portugal cativa a longo prazo os mais novos a querer um dia participar”, concluiu.

Num olhar para o futuro, Borges manifestou desejo em participar no Open da Austrália, em janeiro do próximo ano – desejo concretizado pelo menos no que à participação na qualificação diz respeito, graças à vitória na Turquia. O maiato mostra ainda o gosto que tem em jogar com Francisco Cabral com quem se sagrou campeão nacional de pares: “Acho que eu e o Francisco já temos algo especial como equipa”, afirmando que “é para ir mais longe ainda”.

“É preciso tirar prazer”

Nuno Borges é atualmente o quarto melhor português do ranking ATP, ocupando a 228.ª posição. Acima dele, só Gastão Elias (227.º), Pedro Sousa (173.º) e João Sousa (139.º), o português que em 2016 chegou a ocupar a posição 28 da hierarquia, a melhor de sempre para um tenista luso. Borges reconhece a importância do caminho feito pelo vimaranense: “Sinto que o que o João fez foi conquistar ‘terreno’ para os portugueses saberem que é possível chegar lá. É um impulso gigante no ténis português.”

Fã do suíço Roger Federer, um dos três homens na Terra com 20 Grand Slam no currículo – os outros dois, espantosamente, estão também no ativo, são Rafael Nadal e Novak Djokovic – Nuno Borges tem fé na nova geração de tenistas: “Acho que a nova geração já se fez sentir e em breve teremos um top 100 muito diferente dos últimos anos. O ténis acabou por se tornar um desporto em que, às vezes, a experiência ganha jogos e jogar à melhor de cinco sets em Grand Slam mostrava isso mesmo”, analisa.

A conversa com o JPN termina com um conselho do tenista para todos aqueles que pretendem fazer deste desporto carreira: “É preciso arranjar prazer no que fazemos neste desporto, porque torna-se duro por vezes, mas esses momentos que nos dão prazer compensam tudo o resto. Não há segredo, é só preciso trabalhar e querer, o resto não está nas mãos do jogador”.

E a próxima paragem do bicampeão nacional de ténis é… a Maia. É na cidade natal que Nuno Borges disputa a partir de amanhã, quarta-feira (8), o primeiro de dois torneios torneios do ATP Challenger Tour – o Maia Open 1 – que se prolonga até 12 de dezembro. O alemão Elmar Ejupovic (434.º) será o primeiro adversário.

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online – 2.º ano.