A produtora brasileira Glaz Entretenimento adquiriu os direitos da obra, cuja adaptação cinematográfica começa a ser produzida nos próximos dois anos. O livro é inspirado na história de Gisberta Salce Júnior, mulher trans assassinada em 2006 no Porto.

Afonso Reis Cabral é responsável por quatro livros, incluindo “Pão e Açúcar”, obra que ganha uma adaptação nos cinemas. Foto: Sofia Matos Silva/JPN

“Pão de Açúcar”, obra de Afonso Reis Cabral lançada em 2018, vai chegar ao grande ecrã. O livro, vencedor do Prémio José Saramago em 2019 – considerado um dos mais importantes prémios literários portugueses -, mistura ficção e realidade para contar a história de Gisberta Salce Júnior, mulher trans assassinada no Porto em 2006.

Livro “Pão de Açúcar”, escrito por Afonso Reis Cabral e publicado em 2018. Imagem: Dom Quixote

A história será retratada na adaptação cinematográfica da responsabilidade da produtora brasileira Glaz Entretenimento, anunciou a editora Dom Quixote através das redes sociais. A produtora em ascensão por algumas criações disponíveis na Netflix e HBO e de várias séries, filmes e animações distribuídas para canais do Brasil. Entre as produções, encontra-se o filme “Cabras da Peste”, original da Netflix.

Ao JPN, Afonso Reis Cabral refere que o convite para a adaptação do romance chegou este ano e que não conhecia o trabalho da produtora, mas que chegou a investigar depois para perceber do que se tratava.

Reis Cabral afirma que “em princípio” não vai  participar de “nenhuma forma” nas gravações. De acordo com o escritor, o “filme é uma criação artística de uma outra pessoa”, que, na sua visão, não faria sentido participar, visto que “é um outro meio que não domina”.

Conforme explica, o “processo da adaptação para os grandes ecrãs é moroso”, isto porque implica que o “guião, fundos e vários outros fatores” estejam alinhados para o real arranque dos trabalhos. Segundo o autor, o prazo estipulado para o inicio das gravações é de dois anos.

“Pão de Açúcar” é uma das mais referenciadas obras do jovem escritor, que se sente “grato” pelo facto de existir “um interesse de adaptar” algo escrito por si. No entanto, considera ser “uma outra coisa, quase como se fosse uma realidade a parte”, que, como garante “não tem muito que ver com a sua visão artística”. Afonso Reis Cabral diz-se “contente” e espera “sucesso” na realização do filme.

Gisberta morreu num poço, em Fevereiro de 2006 Fotos: DR e Sandra Silva

“Pão de Açúcar” conta a história de Gisberta Salce Júnior, mulher trans assassinada no Porto em 2006. Foto: D.R.

O livro conta a história de Gisberta Salce Júnior, caso que abalou a cidade do Porto e despertou a atenção do país no ano de 2006. Vitima de várias agressões por parte de 14 rapazes, acabou por ser assassinada. Foi encontrada no fundo de um poço, num edifício abandonado no Porto conhecido como “Pão de Açúcar”.

Gisberta era uma mulher trans, emigrante brasileira, que escolheu a cidade do Porto para viver; hoje é considerada uma das mais importantes figuras na luta da causa LGBTQIA+ em Portugal. O livro narra a história das últimas semanas de vida de Gisberta e também o dia da sua fatídica morte.

Na altura do lançamento da obra, Afonso Reis Cabral foi entrevistado pelo JPN, numa conversa onde afirmou que a escrita deste livro foi “um desafio muito grande, porque era um mundo que eu não conhecia”. Para compor o livro, que para si é “uma conquista enquanto escritor”, foi necessário “uma investigação profunda e um trabalho de campo”, afirmou.

O romance, que “não faz qualquer interpretação moral da história” de Gisberta, é uma combinação de factos e ficção, com personagens reais e imaginárias. O objetivo do livro é alertar as pessoas “para esta realidade ou para realidades parecidas”.

“Pão de Açúcar” encontra-se na sua sexta edição em Portugal, tendo já sido publicado em no Brasil e Alemanha; terá lançamento em Espanha em breve. 

Além desta obra, Afonso Reis Cabral é autor de mais três livros: “Condensação” (2005), “O Meu Irmão” (Prémio LeYa em 2014) e “Leva-me Contigo – Portugal a Pé Pela Estrada Nacional 2” (2019). 

Artigo editado por Tiago Serra Cunha