O cinema português está a viver um período memorável no que concerne ao destaque e reconhecimento – especialmente a nível internacional, nos mais variados festivais dedicados à sétima arte. As escolhas são variadas e de qualidade: de animação à ficção, de curtas a longas-metragens, estes são os sete filmes, premiados no âmbito da temporada de prémios 2022/2023, que o JPN evidencia.
Ice Merchants
“Ice Merchants” é uma curta-metragem de 14 minutos, realizada por João Gonzalez e com produção de Bruno Caetano, da COLA Animation. Edificada num universo surrealista, a película conta a história de um homem e do seu filho, que saltam de para-quedas da sua casa, localizada no topo de um precipício, para chegar à aldeia onde vendem gelo, que produzem todos os dias.
Esta animação tem sido destaque no panorama cinematográfico nacional e internacional – muito do qual associado à indicação para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação. Com a nomeação, tornou-se o primeiro filme de produção portuguesa a integrar a restrita e conceituada lista. Mas antes deste feito, “Ice Merchants” já tinha sido detentor de outra conquista. Foi também a primeira animação a receber prémio Leitz Cine Discovery no Festival de Cinema de Cannes, palco onde decorreu a estreia mundial. Com apresentações em diversos festivais internacionais, a fita conquistou múltiplos troféus: destaque para o Hugo de Ouro, de Melhor Curta de Animação, no Festival Internacional de Cinema de Chicago; e para a conquista de um Annie – considerados os Óscares da animação –, no passado sábado (25 de fevereiro), evidenciando uma vez mais o reconhecimento e o sucesso do trabalho de João Gonzalez.
Fogo-Fátuo
Realizado por João Pedro Rodrigues, o musical “Fogo-Fátuo” retrata a história de um príncipe que decide abdicar das suas funções monárquicas para se tornar bombeiro. O filme destaca, de uma forma leviana, diferentes movimentos sociais – desde os direitos LGBTQIA+ às alterações climáticas. Com Mauro Costa, Joel Branco e Oceano Cruz a integrar o respetivo elenco, “Fogo-Fátuo” já arrecadou o Prémio de Melhor Filme no Brussels International Film Festival, e o Prémio Director’s Week, no Sydney Film Festival – depois de uma aclamada estreia no Festival de Cannes.
Somam-se os reconhecimentos obtidos no Festival de Sevilha, com o Prémio Especial do Júri, e no Festival Caminhos, o Prémio de Melhor Ficção. Além disso, esta produção da Terratreme Filmes foi ainda recentemente nomeada para o LUX, o Prémio Europeu do Público para o Cinema, e para os Prémios Europeus do Cinema (EFA).
Restos do Vento
A longa-metragem relata a história de uma tradição pagã, numa aldeia do interior de Portugal, e as marcas dolorosas que este costume gera num grupo de jovens adolescentes. Procura questionar condutas associadas à violência, à subjugação do mais fraco e a própria masculinidade tóxica, como forma aceitável de vivência. Realizado por Tiago Guedes, o filme conta com a participação de atores célebres no panorama nacional, como Albano Jerónimo, Nuno Lopes e Isabel Abreu. Foi selecionado para o Festival de Cannes, em 2022, tendo ainda arrecadado o prémio Calpurnia, de Melhor Filme, no Ourense Film Festival, e o prémio Marcelo Petrozziello, no Lucca Film Festival.
O Homem do Lixo
A curta-metragem de animação, escrita e dirigida por Laura Gonçalves, conta a história de uma reunião de família. Aí, relatam-se as memórias que são partilhadas pelo tio Botão, desde o tempo da ditadura até à emigração para a França, onde trabalhava como homem do lixo. O filme foi apresentado em diversos festivais internacionais de cinema, somando múltiplas distinções. Destaque para a conquista do prémio de Melhor Curta-Metragem Estrangeira, na Semana Internacional de Cine de Valladolid, o prémio dos Críticos de Cinema, no Festival de Animação de Varna, mas especialmente, os dois troféus arrecadados no Animafest em Zagreb, que tornou “O Homem do Lixo” elegível para os Óscares, em 2023. Apesar de acabar por não constar na lista final dos Prémios da Academia, a animação produzida pela “Bando à Parte” esteve inserida no lote de 15 filmes pré-indicados.
Lobo e Cão
Rodado em São Miguel, nos Açores, “Lobo e Cão”, de Cláudia Varejão, conta a história de Ana, Luís e Cloé e as amizades queer que os rodeiam e influenciam. O filme pretende trazer à tona questões humanas, destinadas principalmente aos jovens, relacionadas com a sexualidade e com o desejo eminente de transgressão. A produção da “Terratreme” e da “La Belle Affaire” conta com a participação de Ana Cabral, Cristiana Branquinho e Rúben Pimenta no elenco. Em setembro de 2022, a película foi distinguida com o prémio principal da competição “Giornate degli Autori”, inserida no Festival Internacional de Cinema de Veneza. O painel de júris foi presidido pela realizadora Céline Sciamma, e contou com a colaboração do diretor artístico Karel Och.
Mal Viver
Num hotel, junto à costa norte de Portugal, vivem várias mulheres, da mesma família, de diferentes gerações. A chegada inesperada de uma neta a este espaço conturbado gera conflitos e permanente mal-estar. “Mal viver” conta com as participações de Nuno Lopes, Filipa Areosa e Rita Blanco, nomes de relevo no panorama da atuação portuguesa. A longa-metragem, realizada por João Canijo, estreou-se na 73º edição do Festival de Berlim, acabando por vencer no passado sábado (25 de fevereiro), o Urso de Prata, correspondente ao prémio do júri.
O Lobo Solitário
Dirigida e escrita por Filipe Melo, esta curta-metragem baseia-se na chamada que o radialista Vitor Lobo recebe de um velho amigo, durante o programa da noite da noite da emissora Viva FM. Com Adriano Luz a interpretar o papel principal, esta obra cinematográfica,ainda que não tenha chegado lista final para a premiação na categoria de Melhor Curta-Metragem em Live Action, arrecadou prémios suficientes para a elegibilidade nos Óscares de 2023. O filme de 23 minutos coletou ainda dois troféus no Filmoramax, em Lyon, e três prémios no 28.º Festival Ibérico de Cinema, em Badajoz.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira