A 101.ª edição da Queima das Fitas contou com mais de 600 voluntários ao longo dos sete dias de atividades noturnas. No Queimódromo, estudantes vestidos de laranja, amarelo e azul prestaram cuidados psicológicos, físicos e apoio na vertente digital. Para os jovens, sobretudo da área da Saúde, é importante ter experiência no terreno, em situações de grande pressão e fora da zona de conforto.

“Abrigo(-te)”, como o nome indica, é o espaço dedicado a acolher quem não se sente em segurança ou desorientado. Foto: Íris Silva/JPN

No Queimódromo, ao circular pelo recinto, saltam à vista casacos coloridos. Por dentro das vestes, estão estudantes de áreas variadas que, num regime voluntário, se chegaram à frente para prestar apoio nas mais diversas situações no decorrer da 101.ª Queima das Fitas do Porto. Laranja, amarelo ou azul foram os designados “Pantones da Queima”: respetivamente para prestação de apoio psicológico e segurança, apoio clínico ou técnico.

Vários membros da organização, da FAP, estiveram presentes no recinto. Foto: Íris Silva/JPN

No total, foram mais de 600 os estudantes que se voluntariaram para garantir a segurança e o bem-estar nos sete dias do festival de estudantes, que começou a 7 de maio. As funções são vastas e estruturadas para atuar em consonância com o vermelho da organização do evento – indo desde apoio psicológico a físico, passando por indicações relacionadas com o funcionamento das pulseiras ou do próprio recinto.

Para participar, a Federação Académica do Porto (FAP) abriu um processo de candidaturas durante o mês de abril. Mas apesar de a participação ser voluntária, os interessados, tipicamente ligados à área em que prestam apoio, tiveram de receber preparação, bem como preencher um conjunto de requisitos específicos, sobretudo na vertente ligada à Saúde. Assim, os utilizadores de casacos laranjas receberam uma formação online; já os “casacos amarelos” tiveram preparação formativa em conjunto com os bombeiros.

“Espaço Abrigo(-te)”: o ponto “laranja” para dar segurança a quem sentir que precisa 

Em edições anteriores, como forma de prevenir e atuar em casos de violência sexual ou para ajudar pessoas desorientadas, surgiu o Ponto Lilás. Este ano, a organização expandiu o espaço de prestação de cuidados, criando um contentor equipado com bens essenciais para a prestação de apoio psicológico com o nome “Abrigo(-te)”.

O foco exclusivo “nos primeiros socorros psicológicos” é feito no seguimento de “uma urgência que surgiu do ano passado”, explica Jason Gomes, licenciado em Psicologia e coordenador dos voluntários da Comissão de Prevenção de Comportamentos de Risco – isto é, dos “casacos laranja” que atuam no espaço. Assim, são acolhidas “vítimas, potenciais vítimas ou pessoas que não estejam confortáveis no recinto, seja por alguma situação de assédio, violação, choro ou discussões”.

No geral, o espaço foi melhorado: no ano passado era uma tenda, num canto do recinto, enquanto este ano o contentor está localizado no centro do Queimódromo. Aí, é disponibilizado um sofá, macas, cadeiras de rodas, prateleiras com comida, chá, produtos de higiene e até roupa quente e mantas. À porta, um QR code, com o número de telemóvel, disponibiliza o chat da linha de apoio da FAP.

A equipa inclui mais de 50 voluntários – todos estudantes da área da Saúde, nomeadamente Enfermagem, Medicina e também Psicologia. Além disso, este ano, estudantes de Criminologia também estão no terreno a participar no projeto. Estão aptos a apoiar as diversas situações que vão surgindo ao longo da noite, mas, em casos extremos,  intervém “o apoio clínico”, diz Jason Gomes.

No que toca a ocorrências, e à semelhança de em edições anteriores, a equipa evidencia a procura de assistência em casos de ansiedade e crises de pânico – um cenário que se denotou sobretudo no arranque da Queima das Fitas, com vários testemunhos registados na plataforma “Portal da Queixa”.  

Amarelo nos primeiros socorros

Num segundo contentor, situado no “Centro de Operações”, na entrada do recinto junto às forças de segurança, o apoio clínico, vestido de amarelo, surge para garantir o acesso, de forma permanente ao longo das atividades noturnas da Queima das Fitas do Porto, a cuidados de saúde primários. Para integrar a equipa é necessário estar inscrito num curso de Enfermagem, trabalhando lado a lado com os Bombeiros Voluntários do Porto.

Os “casacos amarelos” trabalham em colaboração com os Bombeiros Voluntários do Porto na prestação de cuidados de Saúde primários. Foto: Íris Silva/JPN

Sara Almeida e Liliana Nunes são estudantes da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) – e duas caras deste grupo que, dividido em equipas com os bombeiros, anda pelo recinto a prestar  auxílio às vítimas que encontram. Apesar de ainda não terem um balanço do número de ocorrências face ao ano passado, afirmam que os casos mais frequentes costumam ser de “intoxicações etílicas, agressões ou quedas”.

Quando questionadas sobre a razão pela qual se voluntariaram, referem que a experiência mostra uma realidade diferente do contexto hospitalar. Trata-se de uma oportunidade de atuar no terreno, em circunstâncias atípicas, que coloca aqueles que se voluntariam fora da sua zona de conforto. Miguel Forte, também voluntário, complementa que esta ação potencia as capacidades de quem um dia vai trabalhar na área da Saúde, servindo como um treino para situações de grande pressão.

O apoio técnico veste-se de azul

Este ano, com a introdução das pulseiras em substituição dos bilhetes e como forma de pagamento, surge uma nova equipa de voluntários direcionada para o apoio técnico. Vestidos de azul, 15 voluntários auxiliam as barracas e dedicam-se a tirar dúvidas relativamente às bilheteiras e à componente digital do evento.

Ainda que, a partir do segundo dia, tenha entrado em vigor um modelo híbrido (que reabriu a circulação de dinheiro vivo além das transações eletrónicas), divididos por conjuntos de barraquinhas, os estudantes fiscalizam e asseguram o bom funcionamento dos pagamentos. “[Se houver] uma pulseira que não está a funcionar, ou uma máquina que não está a ler a pulseira ou faturação da barraquinha, chamam-nos. Se conseguirmos resolver, resolvemos na hora, no local; se não, chamamos técnicos e eles tratam do assunto.”, explica Eva Azevedo, estudante do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP).

Com casacos de todas as cores e para todo o tipo de problemas, mais um ano de Queima das Fitas ficou marcado pela assistência de centenas de estudantes voluntários – uma iniciativa que se tem vindo a praticar desde 2019. A edição deste ano, que terminou a 13 de maio, trouxe aos palcos nomes como Ornatos Violeta, Slow J, Wet Bed Gang e  Two Door Cinema Club.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira

Artigo corrigido às 16h39 do dia 15 de novembro de 2023. O nome do Coordenador da Comissão de Prevenção de Comportamentos de Risco (PCR) da Queima das Fitas de 2023 é Jason Gomes e não Jerson Gomes como, erradamente, estava identificado.