Dois e-mails lançados pela candidatura de Barack Obama no estado do Ohio, em que o plano de saúde proposto por Hillary Clinton e o entusiasmo pela assinatura do acordo de comércio livre da América do Norte são fortemente criticados, levaram a que o tom da campanha de Clinton tenha aumentado de agressividade.

A senadora não deixou passar em claro esta acção do seu concorrente nas primárias democratas e, num tom ríspido e exaltado, acusou Barack Obama de usar “tácticas vergonhosas e inadmissíveis entre democratas”. “Devias ter vergonha, Obama”, disse, acenando com uma cópia do e-mail na mão.

Hillary mostrou também grande ansiedade pelo debate de terça-feira à noite, onde, nas palavras da senadora, “vai poder discutir as tácticas e o comportamento de Obama ao longo da campanha”. Um dos desejos manifestados por Hillary Clinton é o de Obama vir a levar uma campanha “no mínimo consistente com as grandes declarações públicas”.

Esta discrepância que Clinton parece ter encontrado entre a campanha e os discursos de Obama, levaram-na a comparar o seu rival ao actual presidente norte-americano, George W. Bush. “Ele também prometeu a mudança e o povo americano foi fustigado pela sua administração”.

Obama reage com surpresa

“Dá ideia que quem está a jogar tacticamente é ela, ao ficar tão exaltada nesta altura”, respondeu Obama. O candidato democrata acrescentou ainda que estava espantado com a acção inflamada da sua adversária, uma vez que os papéis em causa estão em circulação há já algumas semanas, sem que a campanha de Clinton se tenha manifestado a seu respeito.

Quanto à comparação com o actual presidente, Obama fez chegar à imprensa uma cópia do artigo publicado no passado mês de Dezembro, em que Howard Wolfson, director de comunicação de Hillary, diz que “comparar qualquer democrata a George W. Bush é o pior tipo de manobra política possível”.

Em declarações ao JPN, a professora Teresa Botelho, especialista em Relações Internacionais
e profunda conhecedora da realidade norte-americana, não tem dúvidas em interligar a mudança estratégica de Hillary com os recentes resultados nas eleições primárias. “Ela estava num equilíbrio entre duas coisas. Por um lado, a necessidade estratégica de atacar Barack Obama e por outro a percepção que ela tem do grau de intolerância que o eleitorado democrata tem para com ataques deste tipo. Penso que só em desespero de causa é que ela está a usar este tipo de linguagem e de retórica”, afirmouafirmou.

Campanha negativa de Clinton vai “sair pela culatra”

Teresa Botelho acredita, no entanto, que “o tiro vai sair pela culatraculatra” a Hillary Clinton. “Se há coisa que esta campanha tem demonstrado é um certo repúdio por parte do eleitorado democrata por determinado tipo de retórica, e até agora, Obama tem sido muito elegante no trato com Hillary”.

E é nesta postura do candidato Obama que Teresa Botelho encontra outra explicação para a perda de compostura de Clinton. “Não sei até que ponto o aumentar deste tipo de retórica se destina exactamente a causar em Barack Obama uma certa perda de compostura. O facto é que, até agora, ele se tem mantido numa serenidade que para Hillary acaba por ser um pouco irritante”, disse Botelhodisse Botelho.

Nader volta a candidatar-se

Entretanto, Ralph Nader anunciou a sua candidatura independente à Casa Branca, por considerar que “nenhum dos candidatos oferece soluções para resolver os problemas que os americanos enfrentam”. Em 2000, Naider acabou por ser responsabilizado pela derrota de Al Gore para George W. Bush.