A Póvoa de Varzim vai ser, por estes dias, uma cidade onde a poesia se vai passear pelas ruas e onde leitores e escritores se vão encontrar por intermédio dos livros.
A 19ª. edição do Correntes d’Escritas, entre os dias 20 e 24, vai incluir uma série de mesas redondas sobre escrita, tradução, literatura e outros temas. Este ano o Correntes vai contar com nomes como Luís Sepúlveda (habitual presença no evento), o brasileiro Eric Nepomuceno, a portuguesa Julieta Monginho, João Tordo, Afonso Cruz e o moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa.
Mas o evento que traz à presença do público 80 escritores de 14 nacionalidades não é, segundo Luís Diamantino, vice-presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, apenas um acontecimento para os mais letrados.
“Ao chamarmos a atenção para os livros todos temos a lucrar com isso”
“Eu acredito que a cultura é o meio primordial de promover uma comunidade, de promover uma cidade, de promover um país” e “ao chamarmos a atenção para os livros todos temos a lucrar com isso”, explicou Luís Diamantino, ao JPN.
Apesar de a coluna vertebral do Correntes d’Escritas – as mesas redondas – se manter todos os anos, o vice-presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim disse que a organização procura “trazer surpresas todos os anos”. A 19ª. edição vai abrir com uma conferência concerto, no dia 21, às 15h00, no Cineteatro Garrett.
“Este ano vamos trazer Ignácio de Loyola Brandão, que esteve cá no ano passado simplesmente como escritor. [Na última edição, Loyola] teve uma conversa tão boa, tão criativa, que todos adoraram ouvir. Este ano, ele vem dar uma conferência, a conferência concerto, juntamente com a filha, Rita Gullo. Por isso, vamos ouvir música, vamos ouvir palavras, vamos ouvir histórias e vamos ouvir, sobretudo, Ignácio de Loyola Brandão”, reforçou Luís Diamantino.
“O tradutor cria livros novos a partir de um livro, o que também exige uma grande criatividade”
Alguns dos protagonistas da vida cultural e literária de Portugal e de outros países vão reunir-se e o estado da arte vai estar em cima de uma mesa redonda. “Teremos cá a Ana Margarida de Carvalho, vencedora do Prémio da Associação Portuguesa de Escritores [2017] e o vencedor do Prémio Camões [2009], que veio de Cabo Verde, Arménio Vieira”, destacou o vice-presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
No entanto, há outras iniciativas a que Luís Diamantino faz referência. “Também teremos uma mesa de tradução, que será uma mesa interessante para aqueles que gostam do tema. O tradutor cria livros novos a partir de um livro, o que também exige uma grande criatividade”, sublinhou.
As atividades paralelas do Correntes d’Escritas vão para lá das quatro paredes do Cineteatro Garrett, e, um pouco por toda a cidade da Póvoa, as palavras vão ecoar como poemas: “Teremos poesia a passear-se por toda a cidade, porque teremos quatro poetas – o Isaac Araújo, o João Rios e o Renato Filipe Cardoso e o Rui Spranger – que estarão por toda a cidade, pelos cafés e até pelo mercado municipal. Eu costumo dizer que, em vez de discos pedidos, são poemas pedidos”, continuou Luís Diamantino.
Júlio Resende esteve a trabalhar na Póvoa de Varzim nos anos 1970 na Escola Comercial Industrial
“Este ano nós lançámos um desafio ao comércio da Póvoa, cujo lema é este: ‘A minha loja também é uma livraria’. Aderiram a este desafio sapatarias, mercearias, lojas de pronto a vestir. Também há venda de livros nesses espaços”, disse o vice-presidente da Câmara da Póvoa de Varzim.
O Correntes d’Escritas vai incluir iniciativas literárias, como concursos para todas as idades, o lançamento da revista em homenagem a Luís Fernando Veríssimo, o lançamento de treze obras e a Feira do Livro. No entanto, a cultura promovida pelo Correntes não se restringe à escrita.
“Ainda antes da abertura do Correntes d’Escritas, no dia 20, terça-feira, às 18h00, teremos no Museu Municipal uma belíssima exposição de Júlio Resende. Júlio Resende esteve a trabalhar na Póvoa de Varzim nos anos 1970, na Escola Comercial Industrial, que agora é a Escola Secundária de Rocha Peixoto. Ele próprio, com a Câmara Municipal, também organizou um encontro de artistas plásticos, que estiveram cá. Por isso, eu digo que é uma forma de reviver os antecedentes do Correntes d’Escritas, porque também estes artistas usaram a Póvoa como espaço de criação”, sublinhou Luís Diamantino.
O público “vem à procura de um momento único de prazer”
“Agora, com o protocolo que estabelecemos com o Lugar do Desenho – a fundação de Júlio Resende – vamos ter aqui esta exposição de desenhos da Póvoa feitos nessa altura por Júlio Resende, desenhos, muitos deles, inéditos. Dessa exposição, lançaremos um catálogo, elaborado pelo mestre Armando Alves”, explicou o vice-presidente da Câmara da Póvoa de Varzim.
Luís Diamantino disse, ao JPN, que o Correntes d’Escritas tem tido muita atenção e procura por parte do público e que o Cineteatro Garrett tem recebido entre 600 a 700 pessoas por mesa redonda, bem mais do que os 468 lugares que a sala de espectáculos prevê. O público “vem à procura de um momento único de prazer”,”ávido” de ouvir as palavras dos escritores da sua preferência, no evento que “inaugura o ano literário em Portugal”.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro