O laboratório espacial chinês Tiangong-1 vai despenhar-se na Terra este fim-de semana , sendo que não há perigo para a vida humana. A informação foi avançada pela Agência Espacial Europeia (ESA, na abreviatura em inglês), que está a monitorizar a reentrada da estação na atmosfera terrestre e que prevê que isso possa acontecer entre esta sexta-feira (30) e segunda-feira da próxima semana (2).
A Europa do Sul – Portugal e Espanha – é um dos locais onde a queda parece ser mais provável, de acordo com um relatório da Aerospace Corporation.
André Silva, do departamento de Ciências Aeroespaciais da Universidade da Beira Interior (UBI), adianta que “a probabilidade [da estação cair em Portugal ou Espanha] é elevada, cerca de 5% enquanto, que nas restantes regiões não chega a meio por cento”.
Os dados da ESA apontam ainda a Argentina como um provável local da queda, mas André Silva acredita que “o mais provável é cair no mar”.
O especialista acredita que o perigo para os humanos é mínimo – a probabilidade de fragmentos atingirem uma pessoa é inferior a um em um bilião – e que “o que seria mais preocupante seriam os depósitos do combustível ou uma ou outra peça maior”.
“Como não vai reentrar com o ângulo ideal, a maior parte da estação espacial vai claramente desintegrar-se”, explica o professor da UBI. “Acaba por haver atrito entre as peças que estão a passar na atmosfera e devido À velocidade, elas vão-se incendiar e vaporizar”, acrescenta.
“Existem outras variáveis que podem alterar a rota [do aparelho]”
O “Palácio Celestial” (“Heavenly Palace”, em inglês), como é chamado o laboratório, desloca-se a uma média de 28 mil quilómetros por hora, segundo a ESA.
André Silva afirma que “é possível prever o local de reentrada, mas existem outras variáveis que podem alterar a rota [do aparelho]. “No início do mês previa-se que a queda fosse ocorrer entre 9 de março e 27 de abril. Atualmente já estamos com uma janela mais pequena”, confirma.
Os satélites também morrem
“O tempo de vida destes equipamentos é limitado”, começa por explicar André Silva. Então, o que fazer quando o tempo de vida útil dos satélites e estações espaciais chega a fim?
O especialista responde: “Nestes casos, têm de ser constantemente reposicionados, porque vão perdendo altitude à medida que estão em órbita, devido à atracão que a Terra exerce sobre eles. Quando não se consegue, tenta-se conduzir o satélite para uma região entre a América do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia – até lhe chamamos o cemitério das naves espaciais e dos satélites”.
Este sítio no oceano Pacífico, segundo os especialistas, é o local que fica mais afastado de qualquer território em terra e alberga já mais de 250 equipamentos vindos dos espaço.
“Há satélites que se tivessem um sistema de estabilização até poderiam estar bastantes mais anos no espaço”
Outro problema prende-se com o combustível dos aparelhos. “Tal como um carro, [os aparelhos] precisam de combustível para funcionar – a menos que se usasse energia solar. Há satélites que se tivessem um sistema de estabilização até poderiam estar bastantes mais anos no espaço porque não necessitavam de tanto combustível”, esclarece o professor.
Ao mesmo tempo, também é possível reutilizar os satélites. André Silva explica que “quando já se obteve tudo o que se pretendia com uma determinada missão e o equipamento ainda tem mais algum tempo de vida poderá dar-se outro fim ao satélite – telecomunicações, por exemplo -, mesmo que de forma temporária”.
Os perigos do lixo espacial
Atualmente, a Agência Espacial Europeia pensa que haja perto de 750 mil peças de cerca de 1 centímetro no espaço em torno da Terra. “É um número que parece pouco, porque o espaço é tão grande, mas é muito preocupante”, admite André Silva.”São peças deixadas por satélites e que podem provocar colisões com outros satélites e criar mais lixo ainda”, explica.
André Silva enumera alguns dos riscos causados por estes pedaços de metal que andam à deriva na órbita terrestre. “Podem provocar danos nos painéis ou superfícies dos satélites que podem ter implicações muito graves e levar à inoperação de um satélite”, adianta.
Mas os perigos não se ficam por aqui. “Se pensarmos que temos uma estação internacional no espaço e que estão lá astronautas, isto pode por em risco a segurança deles e da missão e levar a custos elevadíssimos”, alerta o especialista.
O laboratório Tiangong-1 pesa 8,5 toneladas e mede pouco mais de 10 metros
André Silva garante que as agências espaciais estão a tentar solucionar este problema, “mas não se sabe bem como”.
O laboratório Tiangong-1 pesa 8,5 toneladas e mede pouco mais de 10 metros e faz parte do ambicioso programa espacial da China. Foi a primeira estação espacial chinesa, lançada para o Espaço em setembro de 2011.
Em março de 2016 a China informou as Nações Unidas de que não conseguiam receber dados da estação e que por isso esta teria deixado de funcionar.
A última estação espacial a cair na Terra foi a estação russa Mir, em 2001. Os destroços do aparelho de 143 toneladas caíram no Oceano Pacífico, a este da Nova Zelândia.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro