Nesta nova fase de confinamento e neste regresso ao ensino à distância, o JPN entrevistou a psicóloga Sofia Gabriel, que abordou os fatores que, tal como a própria afirmou, fazem com que a principal consequência originada pela atual crise sanitária possa mesmo ser “uma pandemia na saúde mental”.

A especialista fez uma analogia para explicar a importância de cuidarmos do bem estar emocional: “À luz de uma panela de pressão que necessita de libertar vapor para evitar uma explosão, os seres humanos necessitam de expressar as emoções para sobreviver.”

A sociedade está a atravessar um enorme desafio e a relevância de cuidarmos da nossa saúde mental é reforçada. Sofia Gabriel relembra que é essencial que cada um reconheça as suas fragilidades, mas também as suas potencialidades. Recordar os recursos que foram utilizados no passado para superar e resolver problemas pode também ajudar a ultrapassar esta fase mais sombria. 

A expressão das emoções assume um papel fundamental e o afeto, a compreensão e o apoio dos outros são uma ajuda indispensável. É também importante reconhecer a necessidade de apoio profissional e procurar essa ajuda. Para além disso, a psicóloga reforça ainda a importância de priorizar as mudanças que precisam de ser feitas e de distinguir o que depende de cada um, para que não cresçam sentimentos de impotência e auto-desvalorização. 

O distanciamento deve ser apenas físico e não social, nota Sofia Gabriel, que fala, por isso, sobre a importância de promover o contacto com os outros, através, por exemplo, de videochamadas com os amigos e familiares

O futuro incerto, o medo de contagiar os outros e a ausência de afeto são fatores que fragilizam o bem-estar emocional. No que toca aos jovens, é, sobretudo, na gestão de expectativas que surge um conflito emocional, visto que muita coisa ficou em stand-by

A psicóloga Sofia Gabriel relembra que é a fase onde “o futuro se encontra a ser construído e que a sensação de controlo, segurança e estabilidade são fundamentais para o bem-estar.” Por isso, gerir bem o tempo e as expectativas em relação ao futuro assumem um papel relevante na promoção da saúde mental.

“É importante recordar que, durante o contexto pandémico, para além de todos os desafios emocionais associados a ser jovem, alguns estudantes estavam a viver longe de casa pela primeira vez, longe das suas figuras cuidadoras e amigos e, por acréscimo, perderam alguns momentos que ansiavam e que, para alguns estudantes, poderiam ter sido importantes, como a interação inicial com os novos colegas – agora unicamente permitida por uma plataforma, relembra a especialista. 

A psicóloga mencionou os principais sintomas que a atual realidade social pode provocar na saúde mental da faixa etária mais jovem. Para além de se falar e perceber quais os efeitos que a pandemia pode estar a causar na saúde mental dos jovens, é ainda importante aprender que práticas é que devem ser adotadas. A psicóloga da MIND – Instituto de Psicologia Clínica e Forense deixou uma lista de hábitos que devem ser implementados.“A pandemia ensinou-nos que cada um de nós tem um papel ativo na mudança e alcançar do bem-estar, principalmente numa fase de desafios, medos e inseguranças”, afirma Sofia Gabriel. O impacto negativo provocado pela pandemia da Covid-19 no bem-estar emocional da sociedade é notório. Por isso, é cada vez mais visível a importância do autoconhecimento e da promoção da saúde mental.

Procurar apoio profissional é também uma prática importante que deve ser adotada. A SOS Estudante, a Linha de Apoio Psicológico da Universidade do Porto (220 408 408) e o SOS Voz Amiga (800 209 899) são algumas das linhas para as quais se pode, e deve, ligar para pedir ajuda. 

Artigo editado por Filipa Silva