A temporada 2020/21 tem sido desastrosa para o Schalke 04, um dos clubes com maior história no futebol alemão e o segundo clube do país com mais sócios (155 mil). Ocupando, neste momento, o último lugar da Bundesliga, o clube sediado em Gelsenkirchen corre o risco de descer para a Bundesliga2, algo que não acontecia desde a época 1987/88.

Com apenas dez pontos em 24 jornadas, a equipa esteve perto de bater o recorde de jogos consecutivos sem vencer na Bundesliga. Foram 30 jogos sem vencer (últimas 16 jornadas de 2019/20 e 14 jornadas iniciais de 2020/21), ficando a apenas um jogo de igualar o recorde negativo do Tasmania Berlin (31 encontros consecutivos sem vencer)

Os “Royal Blues” (Die Konigsblauen) são uma das equipas fundadoras da Bundesliga (1963/64) e, após um período de menor sucesso nos anos 80, marcam presença contínua na principal competição futebolística da Alemanha desde 1991/92.

Depois de anos de conquistas internas e europeias, o Schalke 04 pode atravessar caminhos semelhantes a outros históricos do futebol alemão como o Estugarda e o Hamburgo e procurar “reerguer-se na Bundesliga2”, afirma Tomás da Cunha, comentador da Eleven Sports, que acredita na “descida inevitável à segunda divisão alemã” por parte do Schalke.

Do céu ao inferno em três anos

O conjunto de Gelsenkirchen tem estado em “queda livre” desde 2017/18, onde, sob a tutela de Domenico Tedesco, terminaram a temporada no segundo lugar da Bundesliga. Para Tomás da Cunha, a direção do clube “ainda não conseguiu encontrar um substituto à altura” do jovem técnico alemão que, após a goleada sofrida por 7-0 frente ao Manchester City para a Liga dos Campeões 2018/19, foi despedido das suas funções.

A maio de 2019, o Schalke 04 contrata o ex-internacional americano David Wagner, que entre 1996 e 1998 jogou no clube de Gelsenkirchen. A segunda volta da Bundesliga 2019/20 foi das piores da história da histórica equipa, que não venceu uma única partida de 25 de janeiro até 27 de junho de 2020, terminando na 12ª. posição da tabela.

O problema atual do Schalke não começa agora, começou na época passada quando David Wagner fez uma segunda volta catastrófica e o clube deixou arrastar essa situação” refere Tomás da Cunha, destacando que a “falta de liderança técnica” é um dos principais fatores para o “descalabro” em 2020/21.

Outra questão que pode ajudar a justificar este momento é a falta de profundidade do plantel do Schalke. Normalmente, este é um clube que vive muito da sua formação, tendo trazido nos últimos anos alguns dos grandes futebolistas do futebol alemão, como Leroy Sané, Leon Goretzka, Manuel Neuer, Mesut Ozil, entre outros. No entanto, os “Royal Blues” não têm consigo viver desse mesmo sucesso recentemente.

É um clube que sempre viveu muito de jovens formados no clube e há, nesse momento, esse vazio. Não tem aparecido uma nova geração com presença na equipa principal” e houve uma clara “falta de capacidade de reformular a equipa” nos últimos anos, refere o comentador da Eleven Sports.

Com as saídas nos últimos anos de jogadores como Howedes, Goretzka, Sané e McKennie, a “mística” do clube não parece estar presente no plantel da presente temporada, que integra também o avançado português Gonçalo Paciência, fustigado por lesões desde a sua chegada à Veltins Arena.

Para procurar colmatar este facto, a direção do clube “recuperou”, no mercado de inverno, Sead Kolasinac, lateral-esquerdo bósnio formado no clube (emprestado pelo Arsenal) e Klass-Jan Huntelaar, avançado holandês de 37 anos e segundo melhor marcador da história do Schalke 04 (82 golos), que esteve presente na campanha fantástica do clube na Liga dos Campeões em 2010/11, chegando às meias-finais da competição.

Klass-Jan Huntelaar foi um dos nomes que regressou ao Schalke 04 no mercado de inverno Fonte: Schalke 94

A verdade é que “apesar de ter plantel suficiente para terminar na metade superior da tabela”, o Schalke apresenta um “futebol sem fio condutor” e com um “claro bloqueio mental”, diz Tomás da Cunha. O comentador da Eleven Sports acrescenta que “não é a mesma coisa lutar pela manutenção no Armínia Bielefield, por exemplo, do que no Schalke 04, a pressão é completamente diferente”, o que afeta claramente “a equipa técnica e os seus jogadores nesta altura do campeonato.”

Muitas mudanças, mas sem resultados

Após a segunda jornada, David Wagner foi despedido e a direção do Schalke procurou diversas soluções para alterar o rumo dos acontecimentos, apostando em Manuel Baum, mas a falta de ressoltados positivos manteve-se. Em dezembro, Huub Stevens, lenda do clube e o técnico que levou o Schalke à conquista da Taça UEFA (atual Liga Europa) em 1997, assumiu de forma interina o comando da equipa, até à chegada de Christian Gross, que logo no seu segundo jogo, goleou o Hoffenheim por 4-0, com um hat-trick do jovem avançado Matthew Hoppe.

Apesar deste resultado, o que se seguiu foram dez jogos que terminaram em derrotas, com três goleadas, a principal frente ao eterno rival Borussia Dortmund, em Gelsenkirchen, por 5-1. À 23ª. jornada, a direção decidiu despedir Christian Gross e também o diretor desportivo Jochen Schneider, após a goleada sofrida frente ao Estugarda (5-1).

A 2 de março de 2021, o clube anunciou o quinto treinador da temporada, Dimitrios Grammozis, que assinou contrato até 2022. Para Tomás da Cunha, esta contratação poderá ser já “a pensar na próxima temporada, de modo a conhecer plantel e definir algumas bases” de jogo. A estreia do técnico grego aconteceu no dia 5 de março, na Veltins Arena, com a receção ao Mainz 05, atual 17º. classificado e penúltimo da Bundesliga, com um empate a zeros num jogo importante para a luta da manutenção.

O Schalke 04, apesar de nunca ter conquistado uma Bundesliga, foi por diversas vezes segundo classificado, e tem no seu palmarés interno cinco DFB-Pokal (Taça da Alemanha) e sete Campeonatos da Alemanha (conquistados nos anos 30 e 40). A descida de divisão pode ser “o que o clube precisa para se reerguer”, afirma Tomás da Cunha que acredita que o “potencial financeiro do Schalke é superior ao de todas as equipas da Bundesliga2” mas será preciso “haver alguma paciência para desenvolver um projeto estável e sustentável”.

Para a cidade “mineira” de Gelsenkirchen, que vibra e vive pelo Schalke 04, a provável descida de divisão será “dramática para os adeptos” do clube, mas que com o passar do tempo, continuaremos a ver mais de 60 mil pessoas na Veltins Arena e “vibrar” com os “azuis e brancos” da Alemanha.

Artigo editado por João Malheiro