A Seleção Nacional perdeu, esta sexta-feira, no Estádio do Restelo, a partida da primeira mão do playoff de acesso ao Europeu de Futebol Feminino de 2022, a ser disputado em Inglaterra. Sem conseguir materializar o domínio demonstrado no primeiro tempo, Portugal acusou um golo caricato da adversária Rússia, sofrido logo no arranque da segunda metade. Korovkina foi a autora do golo que fez a diferença e colocou as portuguesas numa posição mais difícil no apuramento.

Forçada a alterações significativas na convocatória inicial devido às restrições impostas pela pandemia, a seleção orientada por Francisco Neto viu-se privada das atletas Vanessa Marques (Ferencvaros), Jéssica Silva (Olympique Lyon) e Diana Silva (Aston Villa), para esta eliminatória com forte caráter histórico para o futebol feminino português. As atletas não receberam autorização dos países em que atuam para viajar para o território português sem passar por um período de quarentena.

À procura de conseguir o segundo apuramento consecutivo para o Campeonato da Europa, Portugal apresentou-se em campo com Patrícia Morais na baliza, Ana Borges, Carole Costa, Sílvia Rebelo e Joana Marchão na defesa, Dolores Silva, Tatiana Pinto, Claúdia Neto e Andreia Norton no losango do meio-campo, e Carolina Mendes a fazer dupla de ataque com Francisca Nazareth. A avançada de 18 anos do SL Benfica foi a grande surpresa no onze e o nome escolhido para colmatar a ausência das atacantes mais experientes.

Por sua vez, a formação russa, favorita à partida para este playoff, quer pela sua maior experiência nas grandes competições, quer pelo registo imaculado frente à Seleção Nacional, apostou numa formação composta por sete atletas do Lokomotiv Moscovo, clube treinado pela antiga selecionadora Elena Fomina, que foi substituída no cargo por Yuriy Krasnozhan, no início do ano.

Domínio português sem golo

O último embate entre Portugal e Rússia datava de 2017 e desde então a evolução da seleção feminina nacional tem sido notória. Talvez por isso não tenha sido tão surpreendente ver as portuguesas dominar, de forma quase ininterrupta, o primeiro tempo, sem medo de assumir as despesas do jogo.

Logo aos três minutos, Claúdia Neto conquistou um livre direto à entrada da área russa. Na cobrança, a capitã da Seleção Nacional rematou ligeiramente por cima da barra. Ainda dentro dos dez minutos, surgiu o primeiro remate à baliza, também para a “equipa das quinas”, por Andreia Norton.

Estes dois lances deram o mote para o que seria a primeira parte. Portugal com mais bola, boa circulação e muita mobilidade na frente, sobretudo graças aos recuos de Francisca Nazareth para jogar muitas vezes em apoio com as jogadoras do meio-campo português. A primeira chegada da Rússia à área portuguesa aconteceu apenas aos 16 minutos, com um remate de primeira de Smirnova, naquela que foi uma perfeita demonstração do perigo do jogo direto das formação visitante.

Na resposta, Tatiana Pinto esteve perto de fazer o golo, com um remate de fora de área a obrigar a guarda-redes russa a voar para evitar o inaugurar do marcador. Os minutos seguintes viram Portugal acumular vários cantos, a maioria deles batidos de forma curta para desposicionar as adversárias, com vantagem clara no jogo aéreo.

Ainda que a Rússia tenha melhorado na fase final do primeiro tempo, com Smirnova e Korovkina a tentar alvejar a baliza defendida por Patrícia Morais, a Seleção Nacional foi conseguindo lidar com o estilo de jogo cínico das russas, sempre à procura do espaço nas costas das centrais portuguesas.

A melhor formação em campo durante a primeira parte, ficou apenas a faltar um golo para dar mais justiça ao marcador antes do intervalo. Carolina Mendes ainda teve nova oportunidade para desfazer o nulo, mas falhou a emenda após cruzamento de Andreia Norton.

Golo caricato retira animo às portuguesas

O início da segunda parte trouxe um jogo mais dividido. Portugal tinha mais bola, mas a Rússia lançava cada vez mais bolas para a área portuguesa e mostrava-se mais eficaz na pressão alta. Num desses lançamentos, um cruzamento em balão viu a bola bater na trave, com Patrícia Morais a perder momentaneamente a noção do local da bola e a permitir que Korovkina, a melhor marcadora das russas na fase de qualificação, encostasse sem problemas para o 1-0.

A seleção de Francisco Neto acabou por acusar o golo. A circulação de bola perdeu segurança e qualidade, o que fez com que o jogo se tornasse mais desconexo e desinteressante, já que a Rússia nunca demonstrou vontade em trabalhar em demasia os seus ataques. Carolina Mendes ainda ameaçou o golo, na resposta a um canto de Claúdia Neto, antes de ser substituída por Ana Capeta.

Do lado russo, Fedorova destacava-se como a jogadora mais perigosa e era dos seus pés que surgiam os melhores lances das visitantes. Aos 80 minutos, Telma Encarnação, entrada para o lugar de Francisca Nazareth, ganhou em velocidade às centrais russas, mas a bola sobrou para Ana Capeta que viu o seu remate prensado, naquela que foi a aproximação mais perigosa de Portugal à baliza adversária nos segundos 45 minutos.

Até final, não houve mais lances de nota e a Rússia parte assim para a segunda mão com uma importante vantagem, fruto do golo marcado fora de casa. Numa partida com duas partes distintas, Portugal foi melhor no primeiro tempo, mas não marcou e acusou animicamente o golo sofrido a abrir a segunda metade.

Com a derrota por 1-0 no Estádio do Restelo, a Seleção Nacional está obrigada a bater a Rússia por dois golos na visita a Moscovo para chegar ao Campeonato da Europa.

“A estratégia vai ter de se manter”

Após o encontro, Francisco Neto lamentou o resultado, mas salientou a boa primeira parte portuguesa, nomeadamente o nível de organização e a capacidade para criar oportunidades. Admitiu também que a equipa se desorganizou após o golo, com alguma perda de concentração e menos bolas divididas ganhas às russas. “Não há jogo fáceis e que cada pormenor pode fazer a diferença”, relembrou.

Para a segunda mão, onde em princípio já poderá contar com Jéssica Silva, o selecionador nacional garante que a “estratégia vai ter que se manter”, ou seja, preservar o nível de organização e “procurar com calma as boas oportunidades de golo”. Nesta fase, o foco passa por fazer a recuperação física das atletas, uma vez que a recuperação mental não é necessária, já que todas as jogadoras “querem estar lá [no Europeu]”. Francisco Neto terminou a afirmar que “nada ia ficar resolvido” neste jogo.

O encontro da segunda mão está marcado para terça-feira, às 15 horas, na Sapsan Arena, em Moscovo.

Artigo editado por João Malheiro