Após a quarta ronda de negociações russo-ucranianas que decorreram esta quinta-feira (10) em Antália, na Turquia, pouco (ou nenhum) progresso foi feito. O foco da Ucrânia estava nas questões humanitárias e num cessar-fogo de 24 horas em Mariupol, mas Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, acusou o homólogo russo, Sergey Lavrov, através do Twitter, de ter ido à reunião “para falar e não para decidir” – foi mesmo Lavrov quem deixou no ar a possibilidade de um encontro entre Putin e Zelensky. A próxima reunião, tal como o fim do conflito, ainda não tem data marcada.

“Putin não recusa um encontro com Zelensky, um dia pode acontecer”. Uma afirmação do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, que surgiu na conferência de imprensa dada após a reunião. O representante do Kremlin, para além de enfatizar a ideia de que “a Rússia nunca quis guerra”, salientou ainda a vontade dos russos de “abrir diariamente corredores humanitários na Ucrânia”, uma questão que, segundo Lavrov, terá surgido durante o encontro por iniciativa dos “amigos turcos”.

Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia durante a quarta ronda de negociações, em Antália, na Turquia. Foto: Agência Anadolu

Com versões ligeiramente diferente dos factos, e numa conferência de imprensa separada, o chefe do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) ucraniano revelou que, por sua iniciativa, “dedicaram a maior parte do tempo a discutir questões humanitárias” – uma tarefa, segundo o mesmo, difícil, porque “não foi sempre fácil para mim ouvir o que ele [Lavrov] dizia”.

Se o ministro russo referiu que durante as conversações com Dmytro Kuleba, “ninguém iria concordar com um cessar-fogo”, a “impressão” relatada pelo homólogo ucraniano é de que “a Rússia não está numa posição, neste momento, para estabelecer um cessar-fogo”. 

Da parte ucraniana, havia uma maior preocupação com a cidade de Mariupol, das mais fustigadas pela ofensiva russa, e uma das intenções era acordar um cessar-fogo de 24 horas para a retirada de civis, algo que não foi conseguido. “Eles procuram a rendição da Ucrânia. Isso não é o que eles vão ter”, atestou. 

“Acordos de segurança teriam sido alcançados se fosse possível fazer negócios com parceiros honestos”, alegou Sergey Lavrov. O membro do governo de Putin certificou que Moscovo está pronta para discutir garantias de segurança para a Ucrânia, para a Europa e para a própria Federação Russa. “A Rússia não atacou a Ucrânia e não planeia atacar outros países”, declarou.

O fornecimento de armas aos ucranianos, disse Kuleba, não foi debatido. Já na conferência de imprensa pós-reunião, o líder do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, advertiu: “Aqueles que bombeiam armas para a Ucrânia e enviam mercenários para lá devem entender a responsabilidade das suas ações”. 

Lavrov alongou-se nas declarações relativas à “reação do Ocidente” após a invasão russa que, para o ministro, “mostra que há uma batalha de vida ou morte pelo direito da Rússia de estar no mapa político do mundo”. “Não teremos ilusões de que o Ocidente pode ser um parceiro confiável”, acrescentou.

Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia durante a quarta ronda de negociações em Antália, na Turquia Foto: Agência Anadolu

Em resposta às sanções atribuídas à Rússia, inclusive a proibição de importações de petróleo e gás natural russos nos Estados Unidos da América (EUA), o dirigente máximo do MNE russo asseverou que o país “não dependerá mais de empresas ocidentais” e  vai garantir “que nenhum Tio Sam [em referência ao governo dos EUA] possa tomar decisões para destruir a economia russa”.

Apesar do desencontro nos objetivos de ambas as partes, Kuleba garantiu que continua disponível para se “encontrar novamente neste formato se houver perspetivas de uma discussão produtiva e busca de soluções”. “Estamos prontos para buscar soluções diplomáticas equilibradas para Putin e para esta guerra, mas não vamos nos render”, reiterou.

Ainda não foi divulgada uma data para a próxima ronda de negociações. Entretanto, para além das milhares de vítimas mortais do conflito que dura há duas semanas, já mais de dois milhões de pessoas fugiram, naquela que é, segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados, a crise de refugiados de mais rápido crescimento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha