A produção “Iokasté” encerra a edição 2023 do projeto Finisterra. A obra é apresentada hoje (24), às 21h, e no sábado (25), às 20h, no Teatro Carlos Alberto (TECA). Após ter estreado nas instituições produtoras, Prague City Theatres (da Chéquia) e Slovak Chamber Theatre (da Eslováquia), a peça é agora exibida no Porto, em colaboração com o Teatro Nacional S. João (TNSJ).

“Iokasté” foca-se na figura mitológica grega Jocasta e nas tragédias que protagoniza. O espetáculo concede uma “centralidade e voz” que a personagem nunca teve “para investigar as raízes da misoginia, do antifeminismo e da masculinidade tóxica”, diz um comunicado do Teatro Nacional São João (TNSJ).

Desta forma, o personagem clássico é “requisitado por uma nova dramaturgia contemporânea”, explica Nuno Cardoso, diretor artístico do TNSJ. O tema da produção é a condição feminina, e faz uso do protagonismo de Jocasta “decantando-o para a problemática da mulher na atualidade”.

Festival quer “tomar o pulso” a um “mundo pós-pandémico” a viver “uma guerra na própria Europa

Este espetáculo é uma das cinco peças criadas por dez teatros nacionais europeus que integram o projeto Finisterra, estreado a 27 de janeiro. Para além dos congéneres português, checo e eslovaco, já referidos, integram o festival, entre outros, o Théâtre National de Strasbourg (França), o Constanţa State Theatre (Roménia) e o Teatre Nacional de Catalunya (Espanha). Cada produção resultou da parceria entre duas instituições. Após estreia nos países de origem, os espetáculos circulam pelos restantes.

As quatro peças já apresentadas no Finisterra 2023

  • Iphigénie” foi a primeira a ser apresentada. Escrita por Tiago Rodrigues, é uma produção do Théâtre National de Strasbourg com a participação do Teatro Nacional S. João. A peça contou com a encenação de Anne Théron e a interpretação de Carolina Amaral e João Cravo Cardoso.
  • Decalogue of Anxiety” é uma coprodução búlgaro-luxemburguesa do Théatre National du Luxembourg e o Theatre Laboratory Sfumato. A peça tem como dramaturga Florian Hirsch e os diretores artísticos Margarita Mladenova e Ivan Dobchev.
  • Prometheus’22” resultou da coprodução dos teatros romenos Hungarian Theatre of Cluj e Constanta State Theatre e do teatro eslovaco SNT Drama Ljubljana. Encenada por Gábor Tompa, é uma homenagem a Beckett de Ágnes Kali.
  • Focs/Vatre”, baseia-se na obra “Feux” da escritora belga Marguerite Yourcenar e foi produzido pelo Teatre Nacional de Catalunya e pelo Yugoslav Drama Theatre. Conta com a encenação de Carme Portaceli.

As cinco peças incidem sobre a matriz clássica da tragédia grega e procuram refletir sobre a experiência da catástrofe. São elas: “Iphigénie”, “Decalogue of Anxiety”, “Prometheus’22”, “Focs/Vatre” e “Iokasté”.

Assim, Finisterra consiste numa mostra de teatro articulada que pressupõe “o confronto com problemas que temos nos dias de hoje”, partindo da releitura, re-imaginação e reescritura de textos matriciais gregos. A tragédia clássica faz a ligação entre as cinco produções, apesar de cada uma variar tematicamente.

Nuno Cardoso considera serem dois os fios condutores do projeto: “a visão da realidade atual” interligada com os textos clássicos, e o conjunto de produções europeias, não somente dos grandes palcos, mas “de uma Europa limítrofe”. Procura, então, apresentar um “outro olhar europeu”, ao integrar países como a Roménia, a República Checa, a Eslováquia e a Sérvia.

Finisterra apresenta-se como uma “tentativa de tomar o pulso a este mundo pós-pandémico com uma guerra na própria Europa”, explica o diretor artístico. Procedeu-se ao convite a teatros nacionais para relacionarem-se entre si e criarem peças num modelo de coprodução.

O balanço feito por Nuno Cardoso, antes do último espetáculo, é “extremamente positivo”. A adesão é descrita como “generosa”, com salas cheias e feedbacks “gratificantes, porque as pessoas reconhecem um conjunto de temáticas que as toca”.

Escrito em checo e esclovaco, “Iokasté” tem legendagem para português.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro