E, no fim, nem tudo a água levou: apesar do mau tempo, o dia ficou profundamente assinalado pelas atuações inesquecíveis, e pontuais, do último dia do JN North Festival. O momento mais impactante de domingo (28) foi a estreia do ex-membro do grupo musical Take That na cidade Invicta, Robbie Williams.

Neste fecho do festival, os bilhetes tiveram um custo diferente dos restantes dias – de 55 euros, o preço aumentou significativamente para 95 euros, o que corresponde a quase o dobro. Mas se por um lado este era o dia mais caro, por outro foi o que teve mais afluência, independentemente das condições metereológicas adversas que marcaram o fim de semana.

Nos primeiro e segundo dias, a passagem pelo recinto fazia-se de forma tranquila; já no último, as pessoas aglomeraram-se quer no recinto interior, dentro do espaço da Alfândega do Porto destinado a lounge, restauração e ao palco Clubbing, quer nos locais exteriores cobertos, dificultando a passagem durante o compasso de espera impaciente pela estrela da noite. 

Ao cabeça de cartaz juntaram-se Pedro Abrunhosa, The Black Mamba e Tiago Nacarato, mantendo, assim, a aposta do festival em intérpretes portugueses

De correr o país até atravessar oceanos: Robbie Williams recheou o recinto com fãs dedicados

Aguardando ansiosamente por Robbie Williams, algumas fãs estiveram na fila desde as 09h00 da manhã para não perderem o lugar na linha da frente. Foi o caso de Sílvia Cunha, do Porto, que já tinha estado no concerto em Lisboa – onde inclusivamente ofereceu ao britânico uma bandeira de Portugal. Já Filipa Fidalgo, de 25 anos, veio de Lisboa de propósito para ver o seu ídolo. Preparada com um cartaz, com uma fotografia também do espetáculo de Lisboa, onde esteve com o cantor, a jovem trouxe consigo a esperança de “tentar repetir a experiência”, conta ao JPN.

O amor da plateia vinha em várias línguas, sotaques e evidenciado em dezenas de cartazes, t-shirts e outros elementos. Em alguns casos, fãs correram grandes distâncias para ver o ícone pop, vindos de países como o Reino Unido e até da Argentina.

O cantor e compositor britânico de 49 anos veio ao Porto depois de ter esgotado o Altice Arena, em Lisboa, em março deste ano, para celebrar os seus 25 anos de carreira a solo. Antes disso, ficou sem vir a Portugal durante nove anos.

Depois de entrar no palco com a música “Hey Wow Yeah Yeah”, o artista comprometeu-se a conceder a todos uma noite inesquecível. “Em vez de tentar explicar o que é entretenimento, porque é que não vos mostro?”, diz, introduzindo a faixa “Let me Entertain You”.

Até a chuva parou para dar lugar ao extraordinário performer, que foi o exemplo perfeito de um concerto bem organizado e de como interagir com o público. Aliás, essa dinâmica foi constante e personalizada, sendo disso exemplo a canção “She’s the One”, que o artista adaptou para duas gémeas na frontline, Andreia e Alice, com “They’re the One” (em português, “elas são a tal”).

“Vamos embarcar numa viagem hoje. Estão comigo?”, convidou, num dos vários momentos de narração da atuação, que caminhou pelos vários pontos da sua carreira musical. A multidão inteira acatou com entusiasmo, juntando-se para cantar todo o repertório em uníssono, palavra a palavra.

O último dia de festival viu o seu recinto cheio como em mais nenhum dia se viu. Com um som incrível, o único aspeto lamentável do concerto foi a posição do palco, que dificultou a visão das pessoas na linha de trás. Das janelas das casas que rodeiam a Alfândega do Porto, também apareceram pessoas para se juntar ao inesquecível espetáculo do cantor britânico.

O encerramento foi com “Angels”, um dos hits mais famosos. Mas, respondendo aos pedidos de uma plateia insaciada, o britânico voltou ao palco para um encore, trazendo versos diversos de um apanhado das músicas mais conhecidas (por vezes, repetidas na atuação), como “She’s the One”, “Feel” e “Come Undone”, cantadas acapella com os fãs a fazer coro.

Em terra de chuva, Abrunhosa foi rei

Mas o palco principal do festival à beira-Douro foi a casa de outros artistas – sendo domingo particularmente carregado de talento nacional com raízes na cidade Invicta, como é o caso de Pedro Abrunhosa. A chuva intensificou-se antes do concerto, que antecedeu a estrela britânica, mas isso não demoveu o público. Com as pingas fortes a cair, entrou grandiosamente com “Fazer o que ainda não foi feito” – a música que todos os portugueses bem conhecem e que ecoou por todos os cantos do recinto.

Mas não ficou por aí. Ao som de “Rei do Bairro Alto”, fez com que a plateia tirasse os pés do chão. A verdade é uma: não estávamos em Lisboa, mas os presentes sentiram a música até os joelhos não aguentarem mais.

De volta a casa, o cantor portuense – que tem concertos agendados até ao fim de junho, tendo em maio de 2024 um marcado em Paris -, entregou aos fãs uma performance cheia de adrenalina. Num curto desvio pelo meio do espetáculo musical, fez ainda um discurso sobre a guerra na Ucrânia, apelando à paz.

Pedro Abrunhosa esteve presente no festival em 2017, e agora, em 2023, regressou onde foi muito feliz. Porém, a duração do seu concerto nesta edição ficou muito aquém daquilo que costuma oferecer. Ainda assim, os fãs não se queixaram e aproveitaram cada segundo. 

O amor ficou do nosso lado no concerto dos The Black Mamba

O amor esteve do nosso lado, certamente, assim como o tom perfeito da banda portuguesa – vencedores do Festival da Canção e representantes do país na Eurovisão em 2021

Vestidos a rigor – e com o chapéu que já é imagem de marca do vocalista Tatanka -, The Black Mamba tiveram perante si uma plateia bem composta. No entanto, à semelhança de todos os artistas que passaram pelo palco, frisaram o facto de os presentes estarem ali com a finalidade de assistir ao grande “Mr. Entertainment”, sempre num tom de humor. 

Os cinco membros que compõem o grupo deixaram um dos temas mais conhecidos, “Love is on my side”, que lhes conquistou o 12.º lugar na Eurovisão, para os momentos finais do concerto. O fecho oficial foi ao som de “Crazy Nando”

Apesar do grande número de pessoas a assistir, o que mais se destacou no espetáculo não foi a interação da audiência com a banda, mas sim a destreza vocal de Tatanka.

A continuidade dos ritmos brasileiros por Tiago Nacarato 

Sempre acompanhado pela guitarra e sonoridade da bossa nova (dando uma continuidade ao segundo dia do festival, marcado pela música brasileira), Tiago Nacarato trouxe para a sua performance boa disposição e sociabilização com o público, denotando-se pelas várias intervenções cómicas

A atuação contou com um bom número de espectadores, tendo em consideração que foi o primeiro número do dia. Apesar de apenas uma mão cheia de pessoas saber as suas letras, o ex-concorrente da edição de 2018 do The Voice Portugal não desmotivou e ofereceu aos espectadores tudo aquilo a que tinham direito.

De baladas a uma dedicação à família – em especial à mãe, cuja ausência foi confirmada pela primeira vez num concerto do filho -, Tiago Nacarato aqueceu os corações daqueles que ouviam a sua música.

Uma legião de fãs que moveu mundos e comoveu corações 

Este último dia de festival foi sem dúvida inesquecível pelo cartaz oferecido, em especial pelo nome de Robbie Williams, mas nada seria tão especial sem os milhares de fãs que invadiram o recinto com uma aura que emanava energia, boa disposição e paixão.

Horas na fila, horas no recinto sem ir à casa de banho e sem comer: tudo para guardar lugar e estarem mais próximos do ídolo, que só atuou às 23h00. Independentemente das deslocações serem em território nacional (como Lisboa ou Caldas da Rainha), ou além-fronteiras (como Reino Unido e Argentina), os espectadores confessam ao JPN que todos os esforços valem a pena.

Todavia, mesmo que cada cêntimo gasto tenha tido justificação, as três amigas Luciana Zuzarte, Sofia Fernandes (ambas do Porto) e Sara Pinto, vinda de Lisboa, concordaram que a situação do preço dos bilhetes “é uma tremenda injustiça” e que “podiam ter distribuído o preço por todos os dias”, fazendo “preço igual para todos”.

O género feminino dominou a legião presente no North Festival, mas os homens também estiveram em peso. Filipe Ferreira, de 25 anos, veio de Felgueiras e não esconde o entusiasmo pela estrela pop britânica. “Gosto de Robbie Williams desde que me lembro de ser gente”, declara. Mas não é só: para si, Pedro Abrunhosa é dos melhores artistas que Portugal tem.

No geral, aqueles que vieram ao último dia, não vieram a mais nenhum. No fim da noite, todos saíram satisfeitos e certos de que o seu dinheiro foi bem gasto. Nesse sentido, Robbie Williams agradeceu pela entrega e devoção, que o tem ajudado nos pontos mais baixos da sua vida.

As luzes do palco principal desligaram-se, mas a festa continuou no espaço Clubbing com Yen Sun e Shaka Lion. Ainda que cinzento, foi um bom dia para fãs e artistas.

O festival encerrou com três dias que superaram expectativas, juntando milhares na Alfândega do Porto. A edição deste ano trouxe também as vedetas internacionais Ivete SangaloThe Chemical Brothers.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira