O escritor brasileiro, Rubem Fonseca, vencedor do Prémio Camões em 2003, morreu esta quarta-feira (15), a menos de um mês de completar 95 anos. De acordo com o jornal brasileiro “O Globo”, o escritor estava em casa quando sofreu um ataque cardíaco ao início da tarde. Foi de imediato transportado para o hospital Samaritano, onde acabou por falecer.

O óbito também foi confirmado num comunicado emitido pela editora Sextante, do Grupo Porto Editora, que edita o autor em Portugal e que recorda Rubem Fonseca como um “querido amigo, maravilhoso e genial cultor da língua portuguesa“.

O editor João Duarte Rodrigues observa que Rubem Fonseca foi autor de “palavras precisas e sóbrias” que “narram histórias duras, impiedosas para os falsos e os corruptos, onde a morte era sempre derrotada pela ironia e pela cultura”.

O editor salienta que no “recanto da página, discreta” havia sempre “uma referência à sua origem portuguesa que tanto prezava”. João Duarte Rodrigues relembra também o evento Correntes d’Escritas em 2012, na Póvoa do Varzim, após Rubem Fonseca agradecer o prémio atribuído ao romance “Buffo&Spallanzani” citando Camões. “Já estamos cheios de saudades“, termina.

Apesar da idade, Rubem Fonseca continuou a produzir diversas obras. Nos últimos dez anos, o autor lançou cinco livros, dos quais um romance intitulado “José” (2011) e cinco livros de contos: “Axilas e outras histórias indecorosas” (2011), “Amálgama” (2013), “Histórias curtas” (2015), “Calibre” (2017) e , “Carne crua” (2018), publicado há dois anos, notícia “O Globo”.

Uma última mensagem ao “mestre”

Após a morte do romancista se ter tornado pública, várias personalidades usaram as redes sociais para lamentar a morte do escritor.

É o caso do escritor angolano José Eduardo Agualusa que se pronunciou, salientando a importância do escritor brasileiro ao longo da sua formação.

“Escritores morrem quando deixam de ter leitores. Rubem continuará a ter leitores“, escreveu no Twitter José Eduardo Agualusa.

Também o escritor português Valter Hugo Mãe partilhou uma fotografia ao lado do escritor na sua página de Facebook, manifestando-se “desolado” com a perda.

“Desolado com a notícia da morte de Rubem Fonseca, essa maravilha das letras do mundo. Querido amigo, querido magnífico escritor que tanto me honrou, tanto me inspirou. Adeus, mestre. obrigado por tudo”, lê-se na publicação do autor.

Também o jornalista, escritor e editor português, Francisco J. Viegas não ficou indiferente a esta notícia referindo Rubem Fonseca como seu “grande mestre“.

De comissário da polícia a escritor

Rubem Fonseca nasceu em 1925 no Brasil em Juiz de Fora, Minas Gerais. Filho de país portugueses, viveu toda a sua infância no Rio de Janeiro onde se formou em Direito pela atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Aos 17 anos, Rubem Fonseca iniciou-se na escrita, mas em dezembro de 1952 iniciou a carreira de polícia enquanto comissário do 16º Distrito Policial, em São Cristovão.

O escritor foi se destacando na Escola de Polícia por ser um aluno brilhante, sobretudo em Psicologia, levando-o a especializar-se na área e depois a dar aulas na Fundação Getúlio Vargas.

Em meados dos anos 50, Rubem Fonseca foi enviado, com mais nove colegas agentes, para os Estados Unidos, onde estudou Administração de Empresas na New York University.

Uns anos depois o escritor acabou por abandonar a sua carreira de policial para trabalhar numa empresa de distribuição de energia brasileira. No entanto, Fonseca acabou por se dedicar à escrita estreando-se na literatura em 1963 com o conto “Prisioneiros“.

Um legado com grandes galardões

Ao longo da sua vasta carreira literária, Rubem Fonseca escreve sobretudo romances e contos.

Das muitas obras que escreveu, o conto “Feliz Ano Novo“, publicado em 1975, é um dos mais marcantes. Não só foi um best-seller imediato – tinha vendido 30 mil exemplares em três edições – como também foi alvo de censura, em 1976. A publicação e venda do livro foi proibida pelo ministro da Justiça, Armando Falcão, sob o argumento de que atentava contra a moral e os bons costumes. Apesar de ter recorrido à justiça, a circulação da obra de Rubem Fonseca só foi de novo permitida em 1985, com o fim da ditadura militar, sendo de novo reeditada em 1989.

No final dos anos 70, Rubem Fonseca vê outra das suas obras ser censurada. “O Cobrador” era um livro de contos que retratavam o submundo do crime e da violência sexual na cidade do Rio de Janeiro nos anos 70, através de uma narrativa realista. Com ela, o escritor amealhou o Prémio Status de Literatura Brasileira, em 1978.

No entanto, é o romance “Agosto” o livro mais famoso de Rubem Fonseca. O autor usou, como pano de fundo, a morte do presidente brasileiro Getúlio Vargas, em 1954, para contar o assassinato de um empresário, cujas pistas da investigação conduziam até ao Palácio do Catete – museu dedicado à história da república brasileira – e podiam incriminar pessoas próximas do presidente.

Foram estas e muitas outras criações que permitirem a Rubem Fonseca ser distinguido com vários galardões.

Em 2003, o escritor foi o vencedor do Prémio Camões – prémio mais prestigiado da literatura portuguesa. E ao longo do seu percurso conseguiu amealhar seis Prémio Jabuti, o principal galardão da literatura, no Brasil.

Em 2012, o romancista esteve em Portugal para receber o Prémio Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, seguindo depois para a Lisboa, onde recebeu a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro. No mesmo ano, foi distinguido com o Prémio Iberoamericano de Narrativa Manuel Rojas.

O mais recente e último prémio que recebeu foi o Prémio Machado de Assis, da Academias Brasileira de Letras (ABL), em 2015.

Com mais de 50 anos de carreira, Rubem Fonseca foi considerado como “um dos mais importantes ficcionistas contemporâneos brasileiros“, pela Acadia Brasileira de Letras.

Artigo editado por Filipa Silva