No primeiro de três dias de luta, reuniram-se poucos enfermeiros à porta do São João. Sindicalistas dizem ser "totalmente incompreensível" a imposição de serviços mínimos. Esta sexta-feira há manifestação em Lisboa.

Sindicato dos Enfermeiros Portugueses faz greve em frente ao Hospital São João, no Porto. Foto: Laura Luchtenberg/JPN

Esta quarta-feira, no primeiro dia de greve nacional agendada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) para os dias 28, 29 e 30, eram poucos os profissionais concentrados em frente ao Hospital de São João, no Porto.

O cumprimento de serviços mínimos decretado pelo tribunal terá sido a razão da fraca adesão. Ao JPN, a coordenadora da Direção Regional do SEP, Fátima Monteiro, referiu que os serviços mínimos obrigaram a que estivessem presentes no hospital um número de enfermeiros equivalente a um dia normal, “o que é uma aberração e condiciona o direito a greve”, considerou a sindicalista.

A paralisação que afetou, no Grande Porto, além do São João, o Instituto Português de Oncologia e o Centro Hospitalar de Gaia, entre outros, serviu para os enfermeiros reclamarem contra a “falta de respostas por parte do ministério [da Saúde] para problemas que já existiam e outros que foram agravados nestes últimos meses”, relata o enfermeiro Nuno Agostinho, de 40 anos, também presente na manifestação.  

Entre os problemas identificados pelos profissionais salientam-se, segundo Fátima Monteiro, as “injustiças relativas à valorização dos profissionais“, o que engloba a progressão de carreira e questões remuneratórias.

No que diz respeito à progressão, o sindicato exige a contagem de todo o tempo de serviço, nomeadamente a contagem dos contratos a termo, uma vez que há enfermeiros “que têm anos destes contratos, mas isso não conta nada para a evolução na sua carreira”.

Por outro lado, a sindicalista reforça a necessidade da contratação de mais enfermeiros “mas que seja por vínculo estável”.

Por fim, o dever da “aplicação da tabela remuneratória da carreira técnica superior”, cuja não aplicação leva a que estes profissionais licenciados ganhem “cerca de menos 100 euros” que outros “administrativos recém-chegados”, o que demonstra a “desvalorização dos enfermeiros“. “São problemas antigos, que o governo teima em não responder”, conclui Fátima Monteiro. 

“Queremos uma reunião com o ministério [da Saúde] para colocar estes assuntos em cima da mesa e obter uma resposta”, sublinhou Nuno Agostinho, ao JPN, afirmando ser “totalmente incompreensível” terem sido decretados serviços mínimos. 

O enfermeiro esperava que, no dia 30, o cenário fosse diferente e que houvesse uma grande concentração de manifestantes junto ao Ministério da Saúde, evento que marca o fim dos três dias de protesto: “Certamente, os enfermeiros não deixarão de dizer em viva voz aquilo que sentem”. 

Ao nível nacional, este primeiro dia de greve terminou com uma adesão de 60% em todo o país. No Porto, às 11h00 da manhã, a estimativa oscilava entre os 50% e os 60%.

A paralisação dos enfermeiros ocorreu no contexto do Dia Nacional da Luta convocado pela CGTP para esta quarta-feira (28). Em todo o país, foram realizadas manifestações, greves, concentrações e plenários que levaram a paralisação de serviços, envolvendo também empresas privadas, como o grupo Altice, a EDP, empresas metalúrgicas, autarquias, unidades hoteleiras no Algarve, entre outras. Os protestos são contra a subida do custo de vida e pela reinvidicação de aumentos salariais.

Editado por Filipa Silva