O arruamento escolhido fica entre a Rua das Eirinhas e a Travessa das Eirinhas. Os vereadores do Executivo da CMP destacaram a importância desta decisão, que deve ser vista como "um exemplo para que não se repita a gravidade do que se passou".

Gisberta foi agredida e violada por um grupo de 14 jovens e, mais tarde, assassinada. Foto: Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto/ D.R.

A Câmara Municipal do Porto (CMP) aprovou esta segunda-feira (29) por unanimidade a proposta da Comissão de Toponímia para atribuir o nome de Gisberta Salce Júnior, uma mulher transsexual brasileira assassinada em 2006, a uma rua na freguesia do Bonfim. De acordo com o que foi acordado pela comissão, reunida a 12 de outubro de 2023, o arruamento escolhido fica entre a Rua das Eirinhas e a Travessa das Eirinhas, numa zona próxima do local onde Gisberta morreu.

“Mudaram-se os tempos, mudam-se as vontades”, afirmou o presidente da autarquia, que integrou a primeira Comissão de Toponímia em que o assunto foi discutido e onde foram contados apenas dois votos a favor dessa atribuição. Rui Moreira acredita que a aprovação desta medida mostra que a “cidade está hoje mais preparada“.

“Não vamos esconder debaixo do tapete aquilo que foi um crime terrível“, disse o autarca, acrescentando que “uma sociedade não pode esquecer estas coisas” para que os mesmos atos não se repitam

A vereadora do Partido Socialista Maria João Castro destacou a importância desta decisão para todos os partidos políticos e cidadãos anónimos que lutaram para que uma das ruas do Bonfim recebesse o nome da mulher transsexual, de 45 anos. A socialista disse ainda que é importante saber reconhecer que a cidade “não são apenas aqueles que nos orgulham, mas aqueles que nos confrontam connosco próprios“.

Esta decisão “personaliza a liberdade de autodeterminação e a procura de novas oportunidades”, segundo a vereadora social-democrata. “As mentes estão a evoluir com maior sensibilidade para a aceitação das diferenças e o respeito pela escolha e autodeterminação do indivíduo”, afirmou Mariana Ferreira Macedo.

Já a vereadora da CDU disse que a atribuição do nome a uma das ruas da cidade do Porto é “um símbolo de uma cidade que queremos inclusiva, sem ódio e com a participação de todos”. Para Ilda Figueiredo, esta decisão deve ser vista como “um exemplo para que não se repita a gravidade do que se passou“.

Também o vereador do Bloco de Esquerda (BE), Sérgio Aires, realçou a importância desta decisão, destacando o trabalho levado a cabo pelas organizações da sociedade civil. “Temos que ser capazes de ir mais longe” para combater as situações de violência de género, que se tem verificado no espaço público, acrescentou Sérgio Aires.

Em março de 2021, a Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP) lançou um abaixo-assinado, no qual propunham a atribuição do nome de Gisberta a uma das ruas da Invicta para homenagear a mulher de 45 anos. Gisberta Salce Júnior foi assassinada, depois de ter sido agredida e violada por um grupo de 14 adolescentes

Por unanimidade, o município aprovou também a atribuição do nome do arquiteto Fernando Távora a um arruamento, situado entre a Rua Horácio Marçal e a Rua Nova do Rio, em Paranhos.