A reunião do Infarmed desta terça-feira foi consensual sobre uma evolução positiva da pandemia da Covid-19, em Portugal. A vacinação é um dos fatores apontados pelos especialistas para explicar uma redução da incidência da doença.

A reunião foi iniciada por André Peralta Santos, da Direção-Geral de Saúde (DGS), que apresentou a situação epidemiológica do país. O especialista disse que existe uma estabilização de casos a nível nacional e verifica-se uma “tendência decrescente” da mortalidade.

O grupo etário dos maiores de 80 anos apresenta uma “tendência decrescente de contágios”, tornando este o “grupo mais protegido neste momento”. De uma maneira geral, todos os grupos etários estão abaixo da incidência com que começámos a 15 de março, exceto o grupo dos 10 aos 20, que está ligeiramente acima, afirmou. “Estamos com cinco mortes por milhão de habitantes”, referiu ainda André Peralta Santos.

Quanto aos internamentos, verifica-se uma tendência “ligeiramente decrescente” e a ocupação das unidades de cuidados intensivos (UCI) está abaixo das 100 camas ocupadas, um fator “manifestamente positivo”, considerou André Peralta Santos.

“Nas últimas duas semanas houve uma tendência essencialmente estável da incidência cumulativa a 14 dias, o que é um bom sinal”, referiu. No entanto, o crescimento do vírus na zona de Paredes, Paços de Ferreira e Penafiel “causa alguma preocupação”. Já em Odemira, um dos concelhos com maior incidência do país, nota-se uma “inversão de tendência”, afirmou.

Só o Norte tem R(t) acima de um

Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, afirmou que se “observou um decréscimo da transmissibilidade e para os últimos cinco dias estimámos um R(t) de 0,99”. “A incidência também está em decréscimo, a tendência é estável e será ligeiramente decrescente”, disse o especialista.

A nível regional, a situação atual é “diferente e bastante melhor” do que na última reunião. Só a região Norte tem um R(t) superior a um, mas a incidência é inferior a 120 casos por cada 100 mil habitantes. O R(t) atual da região Norte é de 1,05. Se os valores de transmissibilidade no Norte se mantiverem, “poderá ser atingido o limite daqui a duas semanas ou um mês“, afirmou. Baltazar Nunes considerou haver “espaço para medidas de contenção” que invertam a transmissibilidade.

Sobre o impacto da abertura das escolas, “há algum resultado bastante positivo na forma como a epidemia se transmitiu nas escolas nesta fase de reabertura faseada”. O especialista comparou com a reabertura em setembro de 2020 e mencionou que os atuais “níveis de incidência são bastante mais baixos”.

Sobre a vacinação, o especialista disse que “há um benefício claro em atingir níveis de cobertura vacinal elevados em determinados grupos etários”. “Como podemos verificar, a partir do momento em que atingimos 60% da população com mais de 80 anos vacinados com a primeira dose, houve uma reversão da incidência”. “Esta tendência mantém-se ao longo do tempo”, informou o especialista.

 Variante “indiana” chegou a Portugal

João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, avançou que já foram identificados seis casos da variante “indiana” em Portugal, todos na região de Lisboa e Vale do Tejo. 

Quanto à variante britânica, tem uma prevalência de 89% e com “tendência crescente”, pois o número é já superior aos “83% de há 15 dias”.

Foram ainda registados 73 casos associados à variante de Manaus, dos quais 44 foram detetados nos últimos 15 dias. Foram também registados 64 casos da variante da África do Sul, 11 dos quais identificados nas últimas duas semanas.

“É o reflexo da abertura de fronteiras. As variantes que circulam num país passarão a circular também, de forma mais livre, em todos os outros”, alertou o especialista. Afirmou ainda que a “situação epidemiológica atual das principais variantes de não é impeditiva do plano de desconfinamento”.

Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, deu conta da vacinação, das variantes genéticas e da mortalidade. O especialista sublinhou que a probabilidade de um doente morrer por Covid-19 em Portugal baixou de 4%, nos primeiros dois meses da pandemia, para 0.5%.

Estes números devem-se à testagem, que é agora muito maior, “enquanto no início apenas se identificavam os casos mais graves”. Segundo os dados, a letalidade em abril de 2021 é “cinco vezes mais baixa do que no início da pandemia, e globalmente metade do risco do que foi observado ao longo ano”, referiu Henrique Barros.

O especialista deixou ainda a previsão de que, em setembro, os números de novos casos poderão ser “residuais”, em Portugal. Mais tarde, ao jornal “Público”, Henrique Barros esclareceu que este cenário “é realista” e que a infeção deverá atingir “sobretudo pessoas não vacinadas”.

Vacinação pode estar condicionada

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da taskforce, fez um ponto de situação da vacinação no país, referindo que a nível nacional já foram ultrapassados os 3 milhões de vacinas inoculadas.

No segundo trimestre houve uma “ligeira evolução positiva” do número de vacinas disponíveis: 9,2 milhões de vacinas. No entanto, o limite de idade de dois tipos de vacinas pode condicionar a utilização de até meio milhão de vacinas, avisou o vice-almirante.

No terceiro trimestre, as mesmas duas vacinas com limitações de idades podem retirar ao plano de vacinação cerca de 2,7 milhões de doses de vacinas, afirmou Gouveia e Melo. A “meta dos 70% de proteção” pode ser atrasada por este motivo, admitiu.

Gouveia e Melo referiu que no final desta semana, 22% da população já terá sido inoculada com a primeira dose da vacina, o que já garante uma “proteção bastante acentuada”. O coordenador da taskforce revelou ainda que a 23 de maio devem estar vacinados quase todas as pessoas acima de 60 anos.

Portugal está numa “situação favorável”

No fim da reunião do Infarmed, a ministra da Saúde referiu que a “diminuição da letalidade” foi o “aspeto mais positivo” de todos aqueles que foram apresentados na reunião do Infarmed. Marta Temido disse que Portugal está numa “situação favorável” e que o “país está a controlar a pandemia”. Apelou também ao cumprimento das regras sanitárias de caráter individual e à importância da testagem e vacinação.

O Presidente da República ouve, esta tarde, os partidos sobre o possível fim do estado de emergência e fala às 20h ao país. Tendo em conta que a situação apresentada pelos peritos foi favorável, é expectável que o estado de emergência não seja renovado.

Artigo editado por João Malheiro