Numa fase pós-pandémica e de conflito internacional, o clima de incerteza paira também sobre a indústria da moda. Os designers que falaram com o JPN no Portugal Fashion sublinharam a importância de encarar as dificuldades como uma oportunidade para reinventar o setor, com novas formas de produzir e de pensar o negócio.

Coleção de Diogo Miranda | Foto: Beatriz Basto Foto: Beatriz Basto

Com o aumento da inflação, a diminuição do poder de compra e os custos de energia e de produção cada vez mais altos, a pressão económica é generalizada. Sobre a situação particular do setor da moda de autor, porém, a maioria dos designers que falaram com o JPN, na 51.ª edição do Portugal Fashion (PF), admitiu não ter sentido ainda o peso deste contexto de uma forma muito acentuada no dia a dia profissional.

Contudo, e apesar de os padrões de consumo do setor estarem a regressar à normalidade pré-pandémica, há receio em relação ao futuro. Vários designers apontam a aposta em produtos nacionais, a criação feita à mão e a criatividade ao nível das estratégias de negócio como pontos essenciais para a subsistência do setor.

Os designers Nuno Miguel Ramos, Pedro Pedro e Estelita Mendoça referiram, ao JPN, que as empresas pequenas têm maior flexibilidade, por fabricarem a maioria dos seus produtos de forma artesanal e local. Uma vez que a maioria dos designers não estão a produzir em grande escala, a crise económica sente-se menos. O atraso na entrega dos materiais parece ser a maior preocupação, apesar de Estelita Mendoça afirmar que tal “já acontecia antes.”

Noutra perspetiva, Hugo Costa, designer e coordenador do concurso de novos talentos de moda do PF, o Bloom, sublinha que “as estruturas mais pesadas do têxtil mais bruto já sentem [o impacto da crise]”. “Já se reflete no custo das matérias-primas, por exemplo”, acrescentou.

Gonçalo Peixoto, responsável por uma marca de maior escala, também destacou o aumento dos preços dos materiais e a demora nas entregas: “Muitos dos meus materiais vêm de fora e de um momento para o outro percebi que o material que normalmente demoraria uma ou duas semanas a chegar, começou a demorar um mês e trouxe atrasos às encomendas”, explicou. Gonçalo considera, ainda assim, que o problema pode ser resolvido com uma “reorganização da marca”.

O “made in Portugal” como possível solução

A importação de materiais estrangeiros pode representar atrasos na produção das roupas, dada a instabilidade instalada nas cadeias de distribuição. Por isso, Gonçalo Peixoto considera a utilização de materiais nacionais essencial: “Muitas das vezes tivemos de encontrar uma solução mais parecida em Portugal para conseguirmos fazer”, explica. Pedro Pedro também apontou o uso de matérias-primas portuguesas como um fator que ajuda a proteger as suas empresas de serem afetadas diretamente pela crise.

Andreia Reimão, vencedora do concurso Bloom, destaca também a relevância da moda feita à mão: “Como consigo controlar melhor a produção da coleção, consigo evitar atrasos”. Outra solução, passa por “ter uma produção mais pequena e mais consciente”, sem desperdícios, referiu ao JPN.

Como afirma Mónica Neto, diretora do Portugal Fashion, o made in Portugal “está bem posicionado e a moda de autor portuguesa começa a ter aqui um crivo muito forte e um reconhecimento importante.” 

Para lá da criatividade artística, Andreia Reimão destaca ainda que “as pessoas têm de pensar em novas estratégias de negócios”. Pedro Pedro afirmou que a moda sempre se soube reinventar para acompanhar os tempos. O designer, porém, não esquece os profissionais de menor escala que podem sofrer o impacto da crise económica com mais intensidade, mas mantém o otimismo: “Acho que eles vão-se conseguir readaptar e procurar outro caminho para ir ao encontro do público.”

Com Júlia Coelho

Artigo editado por Filipa Silva