Conclusão pertence a um relatório elaborado pela Universidade Católica do Porto. Minorias étnicas e religiosas “participam significativamente menos”.
A esmagadora maioria dos jovens (89,6%) já exerceu o direito de voto, concluiu um estudo encomendado pelo Conselho Nacional da Juventude (CNJ) à Universidade Católica do Porto (UCP). Rui Oliveira, presidente da direção da CNJ, interpreta positivamente este resultado, pois os jovens “sentiram a vontade e o dever” de ter uma participação ativa, diz ao JPN.
O dirigente destaca ainda o facto de uma maioria esmagadora de inquiridos (69,5%) referir participar em discussões informais de carácter político. No entanto, as formas de participação mais tradicionais na vida pública apresentam valores inferiores: 17,5% dos jovens dizem pertencer ou já ter pertencido a um partido político – apenas 2,4% afirma esta inscrita em sindicatos.
O estudo refere mesmo que “as críticas direcionadas às juventudes partidárias e aos partidos são permanentes”, o que torna evidente o afastamento entre os partidos e as camadas mais jovens da sociedade.
“Essa deve ser uma preocupação” para partidos e sindicatos, diz Rui Oliveira. O dirigente da CNJ defende que está na hora destas organizações “perceberem o caminho que têm que fazer para voltar a ter uma ligação com os mais jovens”, para que estes sintam que “conseguem ter essa voz lá”.
O estudo envolveu entrevistas realizadas online a 931 jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos. Foram também realizadas 12 discussões em pequenos grupos distribuídos geograficamente pelo país.
Mais qualificações e independência financeira são fatores que motivam os jovens a participar
Os investigadores identificaram tendências que influenciam o maior ou menor compromisso dos jovens com a governação do país. Assim, as elevadas qualificações são um fator promotor da participação democrática. A idade mais avançada e a independência financeira também contribuem para um maior empenho na atividade política.
Em sentido inverso, “as minorias étnicas e religiosas participam significativamente menos”. Não obstante, existem exceções, como é o caso do movimento LGBTQI+ . O estudo descreve-o como “um caso paradigmático de um movimento que, ao longo dos últimos anos, tem ocupado vários espaços políticos-sociais cívicos com o objetivo de sensibilizar e promover o fim da opressão de que são alvo”.
As mulheres são outro grupo que enfrenta dificuldades “em ocupar os espaços políticos-sociais-cívicos, mesmo após sucessivas reivindicações e ações”, referem as conclusões do relatório.
“Na globalidade”, pode ler-se no documento, “os/as jovens sentem-se mal preparados/as para incorporar a vida política formal” . Um número muito significativo de inquiridos (84,1%) afirma mesmo que a “falta de conhecimentos” afeta negativamente a sua participação na vida democrática.
Reforço da participação passa por mecanismos de democracia direta, mas sistema educativo deve ser reformado
O estímulo à intervenção dos jovens, diz a equipa da UCP, passa pelo “reforço de mecanismos já existentes”, como o Orçamento Participativo Jovem e outras formas de intervenção direta na vida democrática do país.
Neste âmbito, o sistema de educação é descrito como um dos principais obstáculos, pois “parece não responder às necessidades de formação para uma maior participação política” da camada mais jovem da população, pode ler-se no documento.
Isso explica que, no capítulo das recomendações, a equipa da UCP defenda uma “reforma do sistema educativo” que pode passar pela “criação de uma disciplina de administração pública no ensino secundário”. Rui Oliveira prefere olhar para outras abordagens, que promovam a participação como uma “estratégia global”, até porque “Portugal já é conhecido por ter demasiado tempos de aulas”.
Sublinhando que “não é possível resolver o assunto rapidamente”, o dirigente da CNJ defende que “é preciso motivar para a participação nas associações de estudantes e promover a democracia em contexto escolar, através de conselhos gerais das escolas. Aí realmente os jovens são ouvidos e são escutados”.
Outra das recomendações do estudo refere a possibilidade da idade para votar “ser reduzida para 16 anos”, uma alteração do texto fundamental que está atualmente em discussão no âmbito do processo de revisão constitucional em curso na Assembleia da República.
Questionado sobre o tema, Rui Oliveira prefere não se pronunciar: “Vamos promover uma discussão com as organizações que fazem parte do CNJ. O estudo fez uma caracterização. Agora entramos numa fase que é a de pensar as medidas”.