O Campeonato do Mundo de 2018 não teve nenhum árbitro de nacionalidade portuguesa nos relvados russos. Depois de Pedro Proença, que marcou presença no Brasil como oitavo juiz português, a arbitragem nacional voltou a ficar afastada de um Mundial, o que tinha acontecido pela última vez em 2006. Ao todo, o apito luso já figurou em 50 fichas de jogo, sendo convocado para treze dos 21 torneios realizados até agora. No capítulo disciplinar, foi responsável pela amostragem de 55 amarelos e quatro vermelhos.

Recuando na cronologia, José Vieira da Costa foi o primeiro homem de negro a representar Portugal num Campeonato do Mundo de futebol. A sua escolha pela FIFA deveu-se às boas performances registadas nos Jogos Desportivos Centro Americanos, realizados na Guatemala entre 8 de fevereiro e 12 de março de 1950. O árbitro portuense, que já contava quase duas décadas de apito ao mais alto nível, dirigiu onze partidas em catorze dias e foi naturalmente selecionado para integrar o maior evento desportivo mundial, que seria disputado em solo brasileiro três meses depois.

Vieira da Costa não dirigiu nenhum jogo do torneio de 1950, mas fez parte da equipa de assistentes em três jogos. A 25 de junho estreou-se como árbitro auxiliar do brasileiro Mário Viana no jogo entre Espanha e Estados Unidos (3-1) em Curitiba. Os dois jogos seguintes foram no Maracanã, o último um Brasil-Espanha (6-1), perante 153 mil espectadores, que permitiu à canarinha chegar ao decisivo encontro com o Uruguai.

Quatro anos depois, Vieira da Costa voltou a ser eleito para arbitrar jogos na competição albergada na Suíça. Curiosamente, o juiz nacional até começou por desempenhar novamente as funções de assistente, ao auxiliar Raymond Wyssling na vitória do Brasil sobre o México (5-0). Quatro adias depois abriu-se um novo capítulo na arbitragem portuguesa. A 17 de junho de 1954, Costa subiu ao relvado como líder da equipa de arbitragem do encontro entre Alemanha Ocidental e Turquia, primeiro jogo da “Mannschaft” na caminhada até ao “Milagre de Berna”. Foi a primeira e última vez que o juiz portuense teria honras de chefia numa equipa de arbitragem em Campeonatos do Mundo.

Vieira da Costa ainda voltou a aparecer como assistente em mais dois jogos: o Inglaterra-Suíça (2-0) da primeira fase e o jogo de desempate Suíça-Itália (4-1). Ao todo dirigiu sete partidas no seu historial de Mundiais, entre as funções de árbitro principal e assistente, e antecipou uma longa tradição de juízes lusos a arbitrarem jogos em fases finais. De resto, um pecúlio que ultrapassa o somatório de aparições da seleção principal no certame.

Joaquim Campos também marcou presença em dois torneios. O árbitro nascido em Miranda do Corvo começou por ir ao Suécia 1958. Em Malmö dirigiu o empate a duas bolas entre Alemanha Ocidental e Irlanda do Norte, da última jornada do grupo A, além de ter somado quatro encontros como fiscal de linha. Campos ficou afastado do Mundial seguinte, mas voltou em 1966 para arbitrar a vitória da Argentina sobre a Suíça (2-0) no estádio de Hillsborough, em Sheffield. Fez ainda três jogos como assistente, construindo um recorde nacional de nove partidas em Campeonatos do Mundo. Já Saldanha Ribeiro representou a arbitragem portuguesa no México 1970. Protagonizou duas aparições em León, uma delas liderando trio de arbitragem na igualdade a um golo entre búlgaros e marroquinos.

Após o interregno de 1974 surgiu em cena António Garrido. Pertencente aos quadros da Associação de Futebol de Leiria, foi nomeado para dois Mundiais. No torneio de 1978 começou por expulsar dois húngaros na primeira vitória da Argentina (2-1) rumo ao título. Despediu-se do país sul-americano com dois encontros na condição de fiscal de linha. Quatro anos mais tarde, já depois de ter sido o primeiro árbitro nacional a dirigir uma final da Taça dos Campeões Europeus, apitou o Inglaterra-França (3-1) da primeira fase. Garrido esteve entre os potenciais candidatos a dirigir a final de Madrid, mas fez dois jogos como assistente e acabou relegado para o duelo entre gauleses e polacos pela medalha de bronze. Até à data, a maior distinção concedida a um árbitro português na fase final do torneio.

Carlos Valente foi o representante nacional em 1986 e 1990. No Mundial do México apitou o França-Hungria (3-0) e atuou em quatro ocasiões como fiscal de linha. Já no torneio transalpino assumiu funções de assistente numa ocasião e dirigiu os encontros Argentina-Roménia (1-1) e Itália-República da Irlanda (1-0). Sem representação nos Estados Unidos, a arbitragem portuguesa prosseguiu o seu historial com Vítor Pereira no Mundial de França. O juiz lisboeta dirigiu os triunfos croata (3-1) e germânico (2-1) diante de Jamaica e México, respetivamente. Entrou em mais três fichas de jogo na condição de quarto árbitro.

No torneio seguinte, na Coreia do Sul e no Japão, Pereira repetiu a mesma performance: um jogo na fase de grupos (triunfo dinamarquês por 2-0 sobre a campeã mundial França), outro nos oitavos de final (apuramento norte-americano com dois golos aos arquirrivais mexicanos) e outro como quarto árbitro. Foi o árbitro português com mão mais pesada: 21 cartões amarelos e um vermelho. Carlos Matos, seu habitual assistente, acompanhou-o nos dois jogos, já depois da estreia na competição como assistente do grego Kyros Vassaras na arbitragem do Costa Rica-China (2-0).

Olegário Benquerença esteve presente na edição de 2010, na África do Sul. Depois de dois encontros na fase de grupos (a vitória do Japão sobre os Camarões pela margem mínima e o 2-2 entre Nigéria e Coreia do Sul) coube-lhe dirigir o emocionante Uruguai-gana dos quartos de final. No prolongamento deste jogo exibiu o cartão vermelho direto a Luis Suárez por ter bloqueado com a mão um presumível golo de Asamoah Gyan que daria a vitória aos “Black Stars”. O juiz leiriense admoestou ainda doze amarelos, sempre com a ajuda de outros dois portugueses, José Cardinal e Bertino Miranda.

O assistente portuense esteve também no Mundial do Brasil, integrando um trio composto por Pedro Proença e Tiago Trigo. Os árbitros portugueses dirigiram o Camarões-Croácia (0-4) e o Japão-Colômbia (1-4) na primeira fase, tendo saída na ronda seguinte debaixo de muita polémica. Na vitória tangencial da Holanda sobre o México (3-1), Proença foi muito criticado pelo treinador “azteca” por ter assinalado o penálti que carimbou a passagem da seleção laranja aos quartos de final. O presidente da Liga de Clubes continuou retido pela FIFA para os últimos quatro jogos do Mundial, mas viu esfumadas as hipóteses de terminar a carreira numa final da maior competição futebolística.

Depois da tecnologia da linha de golo estreada no Brasil, o Campeonato do Mundo deste ano assistiu à introdução do vídeo-árbitro. Devido ao pioneirismo e à experiência portuguesa nesta matéria, Artur Soares Dias e Tiago Martins foram nomeados pela FIFA para a equipa de treze árbitros que estão a desempenhar a função na Rússia. Um prémio de consolo, que se materializou até ao momento em 17 aparições nas fichas de jogo do Mundial russo. Tiago Martins já viajou para casa, enquanto Artur Soares Dias é um dos dez vídeo-árbitros escolhidos para os quatro jogos finais da prova e pode igualar a façanha de António Garrido.

“Almanaque Mundial” é um rubrica diária do JPN que mergulha em curiosidades da principal competição futebolística de seleções. 

Artigo editado por Filipa Silva