À semelhança do que tem vindo a acontecer nas últimas eleições, também este ano serão duas as listas que vão concorrer às eleições para os corpos gerentes do Sindicato dos Jornalistas (SJ). Entre candidatos que concorrem à Direção – liderada nos últimos dois mandatos por Sofia Branco – à Mesa da Assembleia Geral e aos conselhos Deontológico, Fiscal e Geral, lista A e lista B defrontam-se esta esta quarta-feira, dia 19 de maio.

A lista A, sob o manifesto “Aos Jornalistas, pelo Jornalismo!”, tem como cabeça de lista à Direção o jornalista Luís Peixoto (RDP/Antena 1), que se candidata ao cargo pela primeira vez. Pela lista B, com o lema “Ação- Rigor- Independência”, concorre ao cargo de presidente Luís Filipe Simões do jornal desportivo “A Bola” e membro da direção em funções.

Para a presidência da Mesa da Assembleia Geral concorre, pela lista A, o antecessor de Sofia Branco no cargo, Alfredo Maia, do “Jornal de Notícias” e, pela lista B, Cesário Borga. À presidência do Conselho Deontológico, a lista A apresenta como candidato Carlos Camponez. Já na lista B surge o nome da jornalista da Lusa e atual presidente Sofia Branco.

Os programas de cada mandato são distintos, mas o objetivo de proteger o jornalismo da “excessiva centralização” bem como “recuperar e conquistar” os direitos dos jornalistas é comum.

Lista A reclama por “mudança urgente”

“Decidi candidatar-me à presidência do sindicato fundamentalmente por achar que era necessário uma mudança e uma mudança urgente”, começa por explicar ao JPN Luís Peixoto, candidato pela primeira vez à presidência pela lista A.

Com o claro objetivo de “agitar as águas “ e acabar com “o ciclo vicioso” de precariedade na profissão, que experienciou diretamente por fazer parte do grupo dos precários do Estado, assegura que “não basta que um sindicato perante os problemas envie comunicados”. “É preciso mais ação”, reclama, dando um exemplo: “imaginemos numa empresa, a organização não nos recebe, o sindicato tem de agir na mesma. Pode perfeitamente realizar um plenário à porta, mobilizar”.

Luís Peixoto é o candidato à presidência pela Lista A. Luís Peixoto

Referindo que a avaliação que faz do mandato atual “não é a mais positiva”, o jornalista da Antena 1 revela que o programa da lista A tem como principal bandeira a realização de uma ampla campanha de angariação de novos sócios, visando sobrtudo aqueles que entraram recentemente para a profissão. “No fundo, é também levar o sindicato aos mais jovens, porque só perto deles é que ele se renova e ganha força”, enfatiza.

Organizar encontros e conferências nacionais temáticas “sobre precariedade, condições de trabalho dos correspondentes, imprensa regional, rádios locais e meios digitais” é outra das ideias que o candidato espera concretizar se tomar posse.

A mensagem será transmitida através de um programa intitulado “A minha precariedade é a tua desinformação”. “Um pouco para que a sociedade em geral fique a saber aquilo que se passa dentro da nossa profissão. A exploração, a precariedade como única opção quando se inicia a profissão”, explica.

Defender a negociação coletiva para assegurar que nenhum jornalista ganhe um valor abaixo do que é considerado digno para a profissão é outra das prioridades.

Paridade e 5.º Congresso na lista de prioridades da Lista B

Para candidato da lista B, Luís Filipe Simões, a decisão de concorrer assenta na necessidade de atenuar a crise do setor. “O jornalismo sempre esteve em crise, mas eu acho que se nós, jornalistas, o pensarmos e conseguirmos ser o íman para que as crises sejam amenizadas, acho que o sindicado pode e deve ter um papel importante. Foi isso que me levou a aceitar este desafio”, explica ao JPN.

Luís Filipe Simões é o candidato à presidência pela Lista B. Foto: D.R.

Em relação ao programa, o candidato destaca a necessidade de efetuar “uma intervenção muito cirúrgica e muito enérgica” nas questões laborais, nomeadamente no que se refere ao regime de teletrabalho, sem deixar de lado a vigilância na aplicação dos contratos coletivos de trabalho.

Continuar com o diálogo com detentores de cargos públicos com o objetivo de influenciar na tomada de decisões políticas sobre a profissão é outras das medidas propostas. O candidato, que emana da atual direção, garante ser uma pessoa “muito diferente” da atual presidente, mas ressalva a partilha de valores comuns: “há muito mais semelhanças na atuação, porque eu de facto revejo-me em muito do que foi feito nas direções da Sofia Branco, que foi, precisamente, a preocupação de intervir, de estar ao lado dos trabalhadores. Há valores de que eu não irei abdicar”.

Um deles prende-se com a questão da paridade de género. “É verdade que hoje em dia há muito mais jornalistas mulheres do que homens, mas quando chegámos às chefias e às escalas mais elevadas, há muito menos mulheres”, afirma garantindo que tal situação não acontece com a lista B que apresenta 52% de mulheres nas listas. “Eu nunca me conseguiria rever numa lista que em cinco órgãos tivesse cinco homens presidentes. Isso é mais do mesmo, é mais do passado e que eu não consigo mesmo compreender, porque a competência não tem género.”

“Combater a desinformação, os populismos e o discurso de ódio” e realizar o 5.º Congresso dos Jornalistas dentro de três anos (o último realizou-se em 2017) para que a classe possa discutir os problemas do setor e a sociedade perceba que, defende, “sem jornalismo não há democracia”, são outros dos objetivos que a lista B pretende concretizar.

Despedimentos, layoff e cortes salariais

Numa época em que, como explica Luís Filipe Simões (lista B), “o jornalismo passa por dias muito complicados” e num ano em que foram vários os órgãos de comunicação a entrar em crise, salienta-se a necessidade da existência de um sindicato forte que lute contra as decisões que contribuem para a precariedade da profissão.

A crise no setor e os constantes atropelos ao exercício da profissão atingiram níveis elevados com a pandemia trazendo “problemas novos e sérios para a classe que podem prolongar-se e mesmo generalizar-se”, salienta a lista A.

Com a decisão de tornar o teletrabalho obrigatório, efetuaram-se layoffs e, mesmo assim, foram muitos os profissionais que trabalharam mais horas, ainda que com cortes salariais e ficou provado que o rigor jornalístico, assegura o candidato da lista B, é o “primeiro e mais importante baluarte da profissão”. Para acabar com esta situação, a mesma propõe que o “teletrabalho constitua a exceção e não a regra” e exige, tal como a lista B, a regulamentação deste regime.

“A pandemia provou que o rigor jornalístico tem que fazer a diferença e eu acho que isso pode e deve ser transportado para as leis para termos uma rigorosa separação do que é jornalismo do que não é”, destaca Luís Filipe Simões (lista B).

Têm sido vários os episódios de despedimentos e layoffs na paisagem mediática nacional. No final do ano passado, o grupo Global Media que detém os jornais “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias”, “O Jogo” e a rádio TSF, anunciou o despedimento coletivo de 81 colaboradores, 17 dos quais jornalistas e no início deste ano anunciou o layoff parcial com redução horária e correspondente perda salarial que em alguns casos chegam aos 33%. O mesmo aconteceu com a Cofina Media detentora do “Correio da Manhã”, “Record” ou revista “Sábado” que em seis anos já efetuou despedimentos por duas vezes.

Luís Peixoto (lista A) sublinha o layoff que se verifica há um ano no jornal “A Bola” recriminando a inação total da direção atual do Sindicato sobre esta situação específica. “Fez vista grossa a muitos problemas que infelizmente se abatem e que todos nós conhecemos nesta profissão”, afirma.

Aproximação à sociedade e ao ensino

Apostar na presença do jornalismo junto dos estudantes de todos os ciclos de ensino e da população mais idosa é outro dos temas que a lista A pretende concretizar através da “Carrinha dos Jornalistas” – estrutura inspirada nas carrinhas da Glubenkian que distribuíam livros pelas escolas -, destinada a explicar o que é o jornalismo e o que o distingue das demais práticas comunicacionais digitais, das opiniões, notícias falsas e desinformação.

Ainda que não tenha um projeto itinerante, a lista B também garante que é necessário distinguir a profissão que sofreu, nos últimos 10 anos, “uma das maiores revoluções desde Gutenberg” com as alterações no acesso e difusão das notícias. Temos que separar as águas e separar muito bem o que é jornalismo do que não é. E o que até pode ser informação, mas não é informação jornalística.”

Em relação ao ensino, nomeadamente ao ensino superior, Luís Peixoto (lista A) deseja que sejam estabelecidos protocolos entre as universidades e os órgãos de comunicação de forma a prevenir a “utilização abusiva de estudantes no processo produtivo e fazer respeitar as regras do estágio curricular”, pode ler-se no manifesto eleitoral da lista. Um debate necessário, defende o candidato, quando, em situação de estágio curricular e profissional, os estagiários não só não são remunerados como são utilizados como “força de trabalho coletiva”, descartando o período de aprendizagem e de acesso à profissão.

Para além disto, é preciso chamar a atenção para a sub-representação de classes sociais nas redações, diz Luís Peixoto. “Imaginemos que um estudante que seja de Castelo Branco quer vir fazer um estágio ou vai para Lisboa, Coimbra ou Porto. Vai ter gastos e é preciso perceber, se a determinada altura, esses gastos não estão a afastar as pessoas mais desfavorecidas.”

O direito de voto, que só pode ser exercido pelos sócios, pode ser realizado por correio eletrónico ou por correspondência, entre as 10h00 e as 18h00 desta quarta-feira, ou presencialmente, entre as 10h00 e as 20h00. Se o método escolhido for o correio eletrónico, os sócios deverão utilizar o endereço de email registado nos serviços do Sindicato de Jornalistas.

Em relação ao voto presencial, Lisboa, Porto e Funchal são as cidades destacadas. Em Lisboa, os eleitores podem votar na sede do Sindicato (Rua dos Duques de Bragança), no Porto nas salas 4 e 5 da Delegação do Norte, na Rua de Fernandes Tomás e, no Funchal, na Direção Regional da Madeira. “Os votos por correspondência devem ser dirigidos à Mesa da Assembleia Geral correspondente ao âmbito territorial do local de exercício da profissão do associado”, pode ler-se no site do sindicato.

Artigo editado por Filipa Silva